“Crônicas de Uma Jovem Família Preta” : Documentário intimista celebra a negritude e a vida através de rotina familiar | 2024
Somente há pouco tempo os núcleos familiares negros passaram a ser retratados em filmes, séries e novelas sem os antigos e abomináveis estereótipos racistas. Hoje eles estão presentes na mídia como são, famílias ricas ou pobres, mas “gente como a gente”, mostrando a importância da representatividade da negritude, afinal no Brasil boa parte da população é negra ou parda, e essa abordagem é muito bem-vinda e necessária.
Em “Crônicas de Uma Jovem Família Preta” somos convidados a participar do cotidiano de uma recém-formada família negra do subúrbio carioca. Hellena é cabelereira especialista em tranças afro e dançarina, Luigi é barman e azulejista nas horas vagas; eles se conheceram, se apaixonaram e logo ficaram juntos, aumentando a família com a chegada do Dominic. Mesmo com as dificuldades financeiras, o casal decide fazer uma festa para comemorar os dois aninhos do filho, celebrar sua vida e criar memórias inesquecíveis; e é muito gostoso acompanhar a preparação desse sonho em meio à empolgação e também aos desafios.
O registro desse cotidiano tão banal é surpreendente, cativa e emociona: a maioria das sequências são genuínas, como as conversas durante as refeições, o trabalho do casal, o crescimento e estripulias graciosas do Dom, e as reflexões diante da vida e da transformação brutal que o nascimento do menino trouxe. Algumas poucas cenas parecem ensaiadas e um pouco artificiais, o que não compromete o bom resultado final do documentário. E todos esses momentos são essenciais para nos apresentar a intimidade dos personagens, suas alegrias e fragilidades.
O diretor Davidson D. Candanda, também Mestre em Relações Étnico-Raciais, apresenta a narrativa, de ótimos 75 minutos, do dia a dia dessa família com uma camada sociopolítica sutil, mostrada através de belas cenas de orgulho étnico, como quando Hellena penteia o cabelo do filho, ou quando Luigi ensina pro Dom que ele é “um preto lindo”.
O longa não traz nada de original ou transgressor, a simplicidade é sua maior qualidade, e é nela que mergulhamos com a mesma doçura que o casal enfrenta os novos percalços impostos pela vida em família. É essa singeleza, a fofura de Dom, o sorriso largo de seus pais, a alegria nas pequenas conquistas, e a harmonia e felicidade desse lar que tornam o documentário encantador, nos deixando com vontade de conhecer ainda mais sobre a vida dessa família tão simpática.