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“Corra que a Polícia vem Aí!”: corajoso e autoconsciente, filme é retorno bem-vindo e necessário ao humor de absurdos | 2025

Cara, isso foi o máximo!

Existe um quê de peculiaridade singular nos filmes clássicos de David Zucker, Jerry Zucker e Jim Abrahams que não se encontra mais em nenhum mercado cinematográfico de ampla distribuição. Trata-se de um humor afiado, rápido e explicitamente satírico (tanto a outros filmes quanto à sociedade), fazendo críticas à indústria e aos estereótipos mundanos com o disfarce de uma embalagem de besteirol descompromissado. Filmes como “Top Secret” (1984) e “Apertem os Cintos… O Piloto Sumiu!” (1980) deixaram de ser produzidos com o tempo, dando lugar a uma categoria diferente de besteirol menos intelectual – se é que pode-se usar tal termo – recheada com sátiras desprovidas de inspiração e com piadas tão vazias quanto esquecíveis.

Percebendo a escassez de tais filmes no mercado e a carência do público que só encontra filmes sisudos entrando e saindo de cartaz cotidianamente, a Paramount e o diretor Akiva Schaffer conseguiram o feito louvável de resgatar o espírito cômico dos grandes títulos protagonizados por Leslie Nielsen e construíram uma sequência (que também não deixa de ser, ao seu modo, um reboot) tão absurda, constrangedora e engraçada quanto a trilogia clássica. Leslie Nielsen é “substituído” por Liam Neeson – uma troca de LN por LN -, nomes parecidos de figurões vindos de filmes sérios que, na terceira idade, encontraram lugar na comédia por conseguir gerar riso fácil justamente por manter sua aura carrancuda em situações ridiculamente risíveis.

“Corra Que a Polícia vem Aí!” (The Naked Gun, 2025), embora rápido e simples em sua 1h25 de duração, se mostrou um sucesso em seu propósito cômico e, por ser cínico (no melhor sentido da palavra) e politicamente incorreto com suas piadas e críticas sociais, toma liberdades que nenhum outro tão preocupado com o que é socialmente aceitável tomaria. De piadas de cocô ao racismo e à zoofilia, o filme contempla o absurdo com olhares conscientes do próprio teor errático sem se tornar, por consequência, um erro. Pela primeira vez em muito, muito tempo, vi uma sala de cinema gargalhar alto em risos copiosamente altos e exagerados, acompanhados de exclamações eufóricas de incredulidade em uma catarse coletiva onde a alegria que se vê é genuinamente cabível e proporcional em sua totalidade ao que é exibido em tela.

Em tempos onde o humor sofre censura por ser incômodo e escancarar um lado da sociedade que virou tendência fingir que não existe, assistir um filme corajoso como esse é uma vitória sobre a mesmice de filmecos água com açúcar que acham transgressores só por terem algum grau de constrangimento em sua base, mas que são tão desprovidos de graça que chamar de cafonas acaba sendo um elogio (sim, “Que Horas Eu Te Pego”, eu estou falando de você). No filme supracitado com a oscarizada Jennifer Lawrence, não houve nenhuma gargalhada em toda a sua duração. No novo “Corra Que a Polícia Vem Aí!”, em contrapartida, tinha gente chorando de rir com menos de cinco minutos de exibição. O humor está voltando a ter coragem de ofender, e principalmente de gerar reflexões através da ofensa. Precisamos de mais filmes assim.

Vinícius Martins

Cinéfilo, colecionador, leitor, escritor, futuro diretor de cinema, chocólatra, fã de literatura inglesa, viciado em trilhas sonoras e defensor assíduo de que foi Han Solo quem atirou primeiro.

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