“Confinado”: envolvendo questões sociopolíticas, thriller psicológico com Anthony Hopkins e Bill Skarsgård é de tirar o fôlego | 2025

Indicado a seis Oscars e vencedor de duas estatuetas, entre tantas premiações e honrarias importantes, o ator Anthony Hopkins tem uma carreira extraordinária e o poder de erguer qualquer produção, por mais simples que ela seja. Uma narração com sua voz imponente e misteriosa arrepia e fascina o espectador sem esforço. Em “Confinado”, adaptação do filme argentino “4 X 4”, ele é o narrador vingativo, condutor da trama e justiceiro.
Na trama conhecemos Eddie, um “loser” desempregado, sem qualificação, que não consegue ser um pai exemplar pra sua filhinha e que não tem dinheiro pra pagar pelo conserto da van velha, seu único bem. Desesperado e diante de tantas dificuldades, ele dá de cara com um SUV luxuoso e abandonado que parece ser a solução pros seus problemas. Só que, ao arrombar o carro, ele fica preso e submetido à tortura física e psicológica do seu dono que comanda tudo pelo telefone. Anthony Hopkins é William, a voz calma e impiedosa que nos envolve e que submete Eddie a muitos tormentos como frio, calor, fome, sede, desespero e muito medo de morrer ali e nunca mais rever sua filha. Bill Skarsgard (o palhaço Pennywise de “It, A Coisa” e mais recentemente Nosferatu) vive Eddie com brilho e mostra todo seu talento dramático em cenas aflitivas, enquanto a câmera passeia pelo espaço ínfimo entre os bancos.
A prisão que se torna o carro, apesar de luxuoso, com bancos de couro, acabamentos requintados e equipamentos de alta tecnologia, pode ser vista como uma analogia das prisões onde os dois personagens estão encarcerados. Eddie preso no labirinto de uma vida miserável sem oportunidades, mas cheia de armadilhas desonestas e soluções temporárias pros problemas, onde ele vai se enrolando cada vez mais. O magnata William vive numa atmosfera de vingança sádica, seus motivos pra torturar Eddie são mostrados na segunda metade da trama, mas eles não justificam o jogo de gato e rato que mais se assemelha ao de “Jogos Mortais”.
Os debates sociais presentes no roteiro são muitos: abismo de classes, criminalidade, globalização, desemprego, fome, aquecimento global, violência. Quase todas as mazelas do mundo capitalista são vomitadas mas pouco exploradas e, pasmem, elas vêm da boca do mais favorecido, e essa inversão de expectativa é muito boa. O clima claustrofóbico em um único ambiente, o diálogo doentio (na verdade um monólogo), a música usada como tortura e os dilemas expostos são bons, mas o que sustenta o carisma do filme é o talento dos protagonistas. Nesse embate entre o ricaço inconformado e o pobre coitado sem perspectiva não há heróis ou vilões, cabe a cada um de nós decidir de qual lado ficar.