“Bob Marley: One Love”: Cinebiografia passeia pela vida e carreira do mito do reggae com canções sobre paz e espiritualidade | 2024
A febre das cinebiografias de cantores estrelados veio para ficar, o que é ótimo pro público que ainda não conhece suas vidas e obras. Porém nem todas são bem sucedidas, apesar de terem um roteiro baseado numa história rica e nomes de peso nos letreiros. Na prateleira das cinebios extraordinárias estão “Ray”, “Bohemian Rhapsody”, “Rocket Man” e “Elvis”, pra citar as mais conhecidas. Já na prateleira das medíocres estão “Nina”, “I Wanna Dance With Someboy – A História de Whitney Houston” e “Respect: A História de Aretha Franklin”. E agora chega as telonas “Bob Marley: One Love”, longa pelo qual eu nutria altas expectativas e que tinha potencial para ser ótimo, mas que me decepcionou grandemente.
Mesmo anos depois de sua morte precoce aos 31 anos, Bob Marley ainda é o Rei do Reggae, o cantor que levou o gênero para todo o planeta, com canções belíssimas sobre paz entre os homens e as nações, direitos humanos, racismo e espiritualidade, sobre a importância de nos conectarmos com algo superior além do mundo material.
O filme começa com o atentado sofrido por Bob Marley e seu grupo na Jamaica; passa por sua vida matrimonial e suas crises, as turnês, a militância em favor da paz, os shows épicos, a gravação de “Exodus” (álbum que o projetou mundialmente) e o trauma do abandono pelo pai, esse um trecho repetido à exaustão. Alguns pontos polêmicos são apenas pincelados, como suas constantes traições, o uso diário de maconha, as rusgas com sua banda The Wailers e com o empresário que desviava dinheiro dos contratos.
A direção é do Reinaldo Marcus Green ( de “King Richard”) e cobre a vida de Bob Marley de 1976 a 1978, com uma narrativa que não segue uma linha cronológica e mistura as passagens mais importantes, o que é sempre um bom recurso para prender o espectador, porém aqui o quebra-cabeça ficou excessivo e confuso. Os flashbacks são muitos e só distinguimos a linha temporal pela mudança nas cores da fotografia que é muito bonita, com tons terrosos e amarelados pras belas imagens na Jamaica e tons mais vivos pras cenas nos EUA e Europa.
“Bob Marley: One Love” é um projeto do Ziggy e Rita Marley, filho e viúva do cantor, o que poderia ter dado um tom mais intimista ao longa, mas na ânsia de abordar tantos aspectos acabou resultando numa produção mediana. O roteiro não se aprofunda em nenhuma das facetas de Marley: o pai de uma família imensa não muito preocupado com a sua subsistência; o ativista pela paz que tenta sanar os conflitos na Jamaica através de sua música, o aficionado por futebol e o compositor de canções lindas. A religião Rastafari e seu deus Jah são citados várias vezes, porém nada sobre eles é explicado, deixando uma lacuna importante na história.
Um mérito da produção são as canções clássicas que embalam toda a história, com letras e melodias belíssimas e atemporais que garantem a emoção: “Redemption Song”, “Could You Be Loved”, “Don´t Worry About a Thing” , “Get up Stand Up”, “No Woman, No Cry”, “Is This Love”, “Three Little Birds”. Um pouco do processo criativo e da genialidade do cantor são mostrados mas deixam uma sensação de “quero mais”, afinal as músicas eram o seu maior veículo de comunicação com o mundo e ele era como uma figura messiânica quando as interpretava.
“Bob Marley: One Love” falha em transmitir com clareza a mensagem e em retratar a vida do cantor com coesão. Um filme honesto mas que infelizmente não está à altura da grandeza do ídolo.
