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“Bicho Monstro”: longa de Germano de Oliveira inscreve a natureza como entidade, mito e ameaça | 2025

O mito atravessa o tempo sustentado pelo que oculta, não pelo que revela. Passa de geração em geração como rumor, aparece nas frestas e logo se recolhe. “Bicho Monstro” procura traduzir esse movimento, apresentando a floresta como uma criatura viva, e a própria criatura como presença que nunca oferece refúgio, apenas ameaça. Há aí uma ousadia em tratá-la como entidade, mas quando a contemplação se alonga além da medida, o mistério se desfaz e a inquietação cede lugar a uma espera estéril.

O ritmo arrastado encontra nas crianças um ponto de luz. Em um dado momento, o gesto trivial de atravessar um riacho adquire a solenidade de rito, e a câmera prolonga a cena até que a mata se imponha como corpo ambíguo. A atmosfera nasce desse jogo de retenção, mas a insistência em repetir o procedimento denuncia um projeto mais dedicado ao cálculo estético do que à vertigem.

A lentidão, em vez de intensificar a tensão, acaba se dissolvendo. O monstro permanece à distância, sem nunca se consolidar como presença. A promessa de enigma se perde e o assombro se reduz a um vazio controlado.

“Bicho Monstro” adota a hesitação como método. Ainda assim, o filme se inscreve numa linhagem em que a natureza não é mero cenário, mas entidade autônoma. Como em “O Último Azul”, em que o caramujo surge de acordo com sua própria vontade, o “monstro” aqui só se mostra quando assim decide. Essa recusa poderia reforçar a aura do mito, mas o filme prefere conter a revelação em vez de assumir o risco. O filme ensaia o mistério, mas recua antes de permitir que ele atinja a força que anuncia.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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