“Aumenta que É Rock’n’Roll” : Longa conta a história da Rádio Fluminense com muito humor e música | 2024
O Rock não é limpinho!
“Aumenta que É Rock ‘n Roll”, que acabou de chegar aos cinemas, narra mais um dos tantos capítulos do grande livro da música brasileira, que, assim como eu, tenho certeza que muita gente não conhecia. Mais uma vez entra em cena o poder do audiovisual para resgatar e apresentar essa história para as velhas e novas gerações, mais especificamente o Rock Nacional, que emergiu nos emblemáticos anos 80 através de bandas que se tornaram verdadeiras lendas e que serviram de farol para muitas outras que viriam depois.
Na trama acompanhamos Luiz Antônio (Johnny Massaro), um jovem atrapalhado e com fobia de lugares lotados que tem um sonho e vai correr atrás dele. O moço quer ser radialista e dar novos ares ao som que tocava nas rádios na época. É quando, da noite para o dia, ele se vê no comando de uma estação de rádio falida e caindo aos pedaços dentro do Grupo Fluminense, em um prédio antigo no centro de Niterói, no Rio de Janeiro. Contando apenas com sua paixão pelo Rock and Roll e com uma equipe composta em sua maioria por mulheres, ele cria a rádio que nasce junto com o rock brasileiro, a Maldita FM. Em meio ao corre corre dos bastidores do rádio, fitas de novas bandas à procura de um lugar ao sol e interferências de sinal, vamos embarcar com Luiz nessa aventura super divertida. Em meio à tudo isso, ele vai se apaixonar por Alice (Marina Provenzzano), uma das locutoras da rádio que esconde um segredo.
É louvável a forma como Tomás Portella transpõe os notáveis anos 80 para as telas. Não só pela excelente direção de arte e a reconstituição de época, mas pelo clima vibrante e a edição vigorosa de Marcelo Moraes, que nos transportam para essa época colorida e descolada da história da nossa música. E claro que, num filme que fala da criação de uma rádio que tem o Rock Nacional como foco, não poderiam faltar as representações que nos remetam a esse tempo, que no caso aqui são personificados por Cazuza e seu Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso e a Legião Urbana. Essas e tantas outras bandas devem muito à Maldita, pois foi a rádio que deu voz a esses sonhos em forma de música.
Outro ponto alto do filme são as inserções de humor na trama, como por exemplo quando a rádio promove uma ação para os ouvintes ganharem uma camiseta da Adam and The Ants, uma banda de rock britânico, que seriam trocadas para um pote de formigas, ou quando a personagem de Bella Camero deixa o microfone aberto enquanto fala intimidades com Jaque (a saudosa Flora Diegues), uma colega de trabalho. São inúmeras sequências hilárias que ajudam a ilustrar a ingenuidade de uma época junto com a vontade de fazer acontecer. Tudo nos anos 80 era muito artesanal, principalmente se comparado aos dias de hoje, e o roteiro de L.G. Bayão traduz com maestria essa era.
A trama tem como cenário Niterói, lugar onde a rádio foi fundada, e a Cidade Sorriso é muito bem enquadrada pelas lentes de Portella: a Praça Araribóia, o Caminho Niemeyer, a avenida Amaral Peixoto e o Parque da Cidade são cartões postais que nos trazem para dentro da narrativa – quem é morador da cidade, assim como eu, vai se orgulhar de ver como a província, como dizem aqui, é valorizada e acolhida pelos criadores do projeto, que muito além de um filme que fala do surgimento de uma rádio que nasceu junto com o Rock Brasil e ajudou a parir o Rock in Rio, também é o retrato de uma geração, de uma juventude inconformada e revolucionária. Afinal, entre tantas coisas, o Rock é resistência e revolução.