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“Armadilha”: M. Night Shyamalan transforma Josh Hartnett em um serial killer perseguido em show de cantora pop | 2024

Já há algum tempo é perceptível os altos e baixos na carreira do diretor e roteirista M. Night Shyamalan. Sua filmografia possui uma obra prima como “O sexto sentido” (1999), um eficiente suspense alienígena como “Sinais” (2002) e filmes horrorosos como “Depois da Terra” (2013) e “O Último Mestre do Ar” (2010). Suas últimas incursões no gênero renderam filmes apenas medianos como “Tempo” (2021) e o último “Batem à Porta” (2023).

Eis que decide, a partir de mais uma premissa intrigante, ressuscitar a carreira de Josh Hartnett (ele esteve em “Oppenheimer”, mas não conta…) ao colocá-lo como o protagonista de seu mais novo thriller, “Armadilha” (2024), que estreia nos cinemas brasileiros esta semana. Na trama, Hartnett interpreta o bombeiro Cooper, um pai atencioso e amoroso com sua filha Riley (Ariel Donoghue). Ambos estão eufóricos por irem juntos ao mega show da cantora pop Lady Raven em um estádio da Filadélfia. Durante o show, Cooper percebe uma movimentação atípica de policiais e do FBI abordando homens quarentões brancos no meio da multidão. Ao trocar uma meia dúzia de palavras com um vendedor de merchandising do show, durante o intervalo, ele descobre que o evento todo não passa de uma cilada para capturar o serial killer, The Butcher, um indivíduo que tem sequestrado indivíduos na cidade e esquartejado seus corpos. A partir de uma inteligência policial, descobriram que o assassino estaria naquele show especificamente e a armadilha seria montada através de uma mega operação policial ao redor e dentro do estádio. Só que existe um elemento nesta história toda, é revelado que o “The Butcher” na verdade é ninguém mais, ninguém menos do que o próprio Cooper.

A partir da realização de Cooper de que o pescoço dele está em jogo, ele passa a desenvolver diversos álibis para sair do Estádio com sua filha da forma mais conveniente possível. Enquanto a menina delira ao som das músicas de Lady Raven, Cooper tenta achar maneiras bizarras para driblar a polícia sem chamar a atenção. É aí que a premissa estruturada por Shyamalan começa a desabar, costurando um dos piores roteiros da sua carreira. As soluções que Cooper encontra para despistar policiais não são somente inverossímeis, mas também abusam do intelecto e da paciência do espectador. A partir de uma sucessão de cenas estúpidas, Cooper passa por situações que são convenientemente implantadas  apenas para avançar com a trama numa tentativa inútil de manter um fiapo de roteiro vivo por quase duas horas.

Durante todo o período que o show ocorre, Shyamalan filma os números musicais com especial destaque, interrompendo o andar da trama por minutos inteiros (anti-clímax), apenas para capturar trechos musicais da cantora fictícia Lady Raven no palco. Não por acaso, Lady Raven é interpretada por sua filha, Saleka Shyamalan, compositora, cantora e performer de todas as músicas do longa metragem. Fica uma impressão estranha de que na verdade o filme é uma grande promoção para a carreira de Saleka, que inclusive lançou recentemente um álbum original com todas as músicas compostas para o filme utilizando o pseudônimo de Lady Raven.

O terço final do filme implode de vez qualquer consideração ou respeito que você poderia ter pelo trabalho de Shyamalan, ao propor uma série de contratempos absurdos e plot twists rocambolescos que ensaiam 2, 3, 4 conclusões diferentes para encerrar de maneira vexatória a narrativa. A sensação que dá é que Shyamalan não sabia como elaborar um final decente para as idas e vindas da história e filmou de forma preguiçosa e incompleta um roteiro cheio de furos e com total falta de acabamento em relação aos rumos que deveria tomar. É afrontoso que um roteirista responsável por ter criado uma trama tão redonda e genial como “O Sexto Sentido” tenha perdido total conexão com a realidade e tenha involuído na qualidade de seu trabalho atual.

Ao final da sessão, saímos traídos pela “marca” falaciosa de bons suspenses advindos da mente de Shyamalan. É sem dúvida um dos piores filmes do ano e um “retorno” capenga de Josh Hartnett aos holofotes, pena que com uma “armadilha” dessa que apenas sabota o seu talento.

Marcello Azolino

Advogado brasiliense, cinéfilo e Profissional da indústria farmacêutica que habita São Paulo há 8 anos. Criou em 2021 a página @pilulasdecinema para dar voz ao crítico de cinema e escritor adormecido nele. Seus outros hobbies incluem viagens pelo mundo, escrever roteiros e curtir bandas dos anos 80 como Tears For fears, Duran Duran e Simply Red.

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