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“Argylle”: Filme de Matthew Vaughn brinca com super elenco e clichês da espionagem

O que acha de uma boa xícara de chá?

Costumo partir do princípio de que é melhor pecar pelo excesso do que pela falta. Claro, “pecado é pecado”, e excesso e falta são medidas igualmente erradas quando o que se busca é uma precisão. ‘Argylle’, novo filme de Matthew Vaughn, consegue o feito de pecar tanto pelos excessos quanto pela falta, e perde a própria mão naquilo que se propunha a ser seu carro-chefe.

É um filme ruim? Não, no fim das contas é um entretenimento assistível e até em certo modo carivante; mas é sumariamente vazio e desperdiça um potencial enorme tanto pela premissa realizada aquém do prometido quanto pela constelação que é o seu elenco subaproveitado.

Abraçando a galhofa e a caricatura, o filme emprega seus personagens como paródias de si mesmos, esboçando indivíduos repletos de estereótipos e posições que parecem ter consciência de uma metalinguagem crítica e sínica – e nessa metade o filme é eficiente e muito bom. Contudo, quando ele abdica da sátira (ou devia abdicar, pelo menos, já que é possível ler também que ao invés da abdicação existe na verdade uma amplificação deslocada da própria proposta), a trama entra em uma queda vertiginosa de explicações e plot twists que não deixam “o cordeiro rugir” como deveria.

A direção de Vaughn é ótima para a ação, mas os excessos nos quais o filme peca são tão… excessivos (na falta de palavra melhor, vai o pleonasmo mesmo) que chega um momento da exibição em que se questiona quando e como é que o filme terá um fim. No outro extremo, a falta que é seu pecado reside no desperdício de tantos nomes de peso em um roteiro que, para agregar a todos, acaba por desenvolver pifiamente a sua maioria.

Apesar dos pesares, o filme tem seu valor como entretenimento casual e tende a agradar quem não se importar com a canastrice arquétipa aos quais ele apela. É uma obra escapista que deputa seu sucesso apostando no carisma das interpretações de Bryce Dallas Howard e Sam Rockwell – fazendo o marketing parecer até mesmo enganoso por causa disso; mas o saldo, no fim das contas, acaba sendo mais positivo (por pouco) do que negativo.

O filme não implementa nada novo ao gênero, e parece uma releitura pouco inspirada de alguns dos maiores clássicos da espionagem – só que ainda assim tem lá seu charme e brinca com as perspectivas e expectativas do público, para o bem ou para o mal. É uma entrada medíocre para uma franquia, e espera-se que os realizadores façam uma autocrítica para identificar seus pecados excessivos e faltosos para que, em um próximo capítulo, a precisão da trama seja maior do que a das miras mirabolantes da ficção dentro da ficção.

Vinícius Martins

Cinéfilo, colecionador, leitor, escritor, futuro diretor de cinema, chocólatra, fã de literatura inglesa, viciado em trilhas sonoras e defensor assíduo de que foi Han Solo quem atirou primeiro.

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