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“Arca de Noé”: Nova roupagem do clássico de Vinícius de Moraes é produção com carisma brasileiro | 2024

Deus estava insatisfeito com a humanidade.  Ele não podia crer que sua criação estava tão perdida, entregue a tantas coisas vis e que iam contra tudo que ele pensou para seus filhos. A segunda chance de Deus para a humanidade veio através de uma Arca, que seria construída por Noé e sua família, e que permitiria além de alguns humanos, um casal de cada espécie de animal, para que um futuro livre do fatídico dilúvio e com vida  estivesse garantido a cada um deles. Todos sabemos que esse episódio de se passa nas Escrituras, mais especificamente no Livro de Gênesis, mas pra quem viveu os anos 80 essa história tem uma outra boa referência: o livro de Vinícius de Moraes, que se valendo da história bíblica, adaptou um livro e um especial para a tevê que se tornou uma febre entre as crianças que hoje tem a idade parecida com a minha.

O ano é 2024 e eis que uma nova versão, que partiu do desejo de Suzana, filha de Vinícius, e que encontrou adeptos de alta tarimba como Sérgio Machado e Walter Salles, ganha as telas com alguns ajustes interessantes que não só contextualizam as clássicas canções, mas também o plot, que dessa vez traz ratos como protagonistas. É o carisma desses ratos, somados ao talento de seus dubladores (Rodrigo Santoro e Marcelo Adnet) é o que a história tem de melhor.

Tom, um guitarrista talentoso e pragmático, e Vini, um poeta romântico e sonhador, são uma dupla carismática e caótica de ratos. Quando um grande dilúvio se aproxima, apenas um macho e uma fêmea de cada espécie são permitidos na Arca de Noé. Tom consegue entrar, mas Vini fica para fora e conta com a ajuda de uma barata engenhosa e a boa sorte do destino para se juntar ao amigo. Durante a viagem, brigas por território e alimentos se instauram, deixando os animais mais fortes contra os mais fracos. Surge a ideia de um concurso de música, que vira o maior objetivo de todos eles e que faz Tom e Vini, os verdadeiros músicos dali, se destacarem e serem requisitados.

A grande sacada desse novo “Arca de Noé”  é a contextualização para um novo momento, onde a valorização das minorias tem ganhado cada vez mais força. Esse ensinamento do respeito por essas minorias aparece quando vemos que os protagonistas são os ratinhos Vini (Santoro) e Tom (Adnet), homenagem a dupla Vinícius de Moraes e Tom Jobim, e animais como o Leão (Lázaro Ramos) tem menor destaque, apesar de roubar a cena com seu vilão de dialeto impagável, que faz reverência a Odorico Paraguaçu , personagem de “O Bem Amado”, criado por Dias Gomes.

“Arca de Noé” foi anunciado como a maior animação originalmente brasileira.. e é. Com um elenco de vozes incrível que passa por nomes como Alice Braga, Bruno Gagliasso, Heloisa Perissé, Débora Nascimento e Luís Miranda, o longa ostenta as dimensões das grandes produções, contudo, já que se trata de um trabalho que homenageia a icônica obra de Vinícius, faltou na produção um maior destaque às canções, com exceção da clássica A Casa, todas as outras músicas ficaram relegadas a trechos que não dão a dimensão do que elas representam até hoje na história da música brasileira. Contudo, é inegável que o filme de Sérgio Machado e Alois de Leo seja sim entretenimento de alto padrão,  que agrade facilmente a adultos e crianças. “Arca de Noéé um bem-vindo resgate da obra do poetinha.

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

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