“Aqui”: Tom Hanks estrela drama sobre sonhos frustrados e a impermanência da vida | 2025
Há meses atrás, quando começaram a pipocar imagens de Tom Hanks e Robin Wright rejuvenescidos digitalmente numa nova produção dirigida pelo Robert Zemeckis e com roteiro de Eric Roth, os olhinhos dos cinéfilos brilharam e altas expectativas começaram a ser criadas, afinal tratava-se do reencontro, 30 anos depois, dos nomes de peso de “Forrest Gump : O Contador de Histórias”. O filme tão aguardado é “Aqui” que, se não chega aos pés das melhores produções de Zemeckis, também não decepciona totalmente, pois tem qualidades que garantem algum entretenimento e boas reflexões.
Baseada no romance gráfico homônimo de Richard McGuire, a trama de “Aqui” é totalmente ambientada na sala de uma casa com uma ampla janela que dá de frente para a casa de William Franklin, filho de Benjamin Franklin, um dos fundadores do Estado Americano e inventor do para-raios. O filme começa na Pré-história com os dinossauros, sua extinção pela queda de um meteoro, passa pela Era Glacial e por milhões de anos até chegar em 1907 na construção da casa que conecta e acolhe várias gerações.
O ponto de vista da trama é ambicioso e ousado, pois a câmera é estática e o ângulo da história é sempre o mesmo por quase duas horas. Somos apresentados a diferentes famílias e realidades em quadros numa narrativa não linear, testemunhamos o que comiam, o que faziam para viver, como se amavam ou brigavam, e principalmente seus planos e ambições futuros, trazendo à tona diversas questões existenciais universais.
O foco da narrativa é na família Young, Al (Paul Bettany) e Rose Young (Kelly Reilly), que compram a casa em prestações a perder de vista e ali tem seus três filhos, um deles é Richard (Tom Hanks), que sempre teve o sonho de ser pintor, mas depois que a namorada Margaret (Robin Wright) engravida, ele tem que abandoná-lo para sustentar a família. Richard e Margaret se casam e passam a viver com Al e Rose e, com a chegada dos filhos, das dificuldades econômicas e do comodismo, nunca mudam dali.
As situações da família Young vão se repetindo: o entra e sai da casa, reclamação, telefonemas, discussões e planos adiados acabam por entediar um pouco o espectador, além de subaproveitar o enorme talento do elenco. Visualmente o filme é lindo, com ricos detalhes em cada uma das épocas e uma fotografia primorosa, ora com cores vivas, ora esmaecidas, trazendo dinâmica na trama ambientada na sala da casa. A impressão é de uma bela tela em movimento.
A técnica do rejuvenescimento digital, o “de-aging”, que foi amplamente usado em “O Irlandês”, ainda me causa uma certa estranheza, talvez por neutralizar alguns movimentos da face dos atores, tolhendo-os de se expressar com naturalidade e transmitir emoção genuína. Em “Aqui”, os protagonistas Tom Hanks e Robin Wright começam a trama bem jovens, se tornam adultos e depois idosos. Nas cenas com a técnica digital, não muito satisfatórias por sinal, o casal envelhecido através de maquiagem convencional contrasta bastante com ambos na juventude no quesito atuação. E é aí, na terceira idade dos protagonistas, que a trama finalmente comove, com o acerto de contas entre o casal e todas as memórias e mágoas que vem à tona.
“Aqui” é uma experiência cinematográfica não convencional e reflexiva, um mergulho no ciclo da vida que fará cada um meditar sobre a própria existência e seus momentos preciosos e fugazes, sobre o poder do agora, e principalmente sobre a importância de nunca desistir dos seus sonhos .