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“Anhell69”: Sombrio e melancólico, longa colombiano retrata geração marcada pelo desencanto | 2022

Um carro fúnebre cruza as ruas de Medellín enquanto um jovem cineasta revisita sua trajetória em uma cidade marcada por conflitos históricos e violência. Em meio às lembranças de infância, o encontro transformador com o cinema e a descoberta de sua sexualidade, ele se propõe a realizar seu primeiro filme. Embora o projeto não se concretize, a premissa idealizada se transforma no fio condutor de “Anhell69”, um relato profundamente íntimo que desnuda os medos, as incertezas e os sonhos de uma geração marcada pelo caos e pela repressão.

Dirigido pelo colombiano Theo Montoya, “Anhell69” segue uma estrutura documental convencional, mas se distingue pela profundidade de seu discurso. A narração em voz over estabelece um tom melancólico e sombrio, impregnando todas as imagens com um sentimento de desesperança. Apesar de reiterar a pergunta “como você se vê daqui a 5 anos?”, o filme contrapõe essa reflexão a um profundo desencanto com o futuro. Muitos dos entrevistados, já faleceram, alguns poucos dias depois das gravações, vítimas da violência, suicídio ou overdose.

Frente a um amanhã incerto e a um passado de rejeição e traumas, resta apenas o presente. A maneira como a comunidade queer colombiana expressa sua sexualidade reflete esse desejo intenso pelo hoje, quase como uma pulsão de vida. No longa, essa expressão é retratada de diversas formas, tanto literal quanto metaforicamente. A premissa do filme não realizado, envolvendo espectros que habitam nosso mundo e aqueles que mantêm relações com esses fantasmas, coloca essas figuras à margem da sociedade. Apesar do simbolismo, a mensagem é clara e acessível. A familiaridade do formato facilita a assimilação do discurso sem parecer didático ou simplista.

Como qualquer filme, “Anhell69” é intrinsecamente político. Contudo, ao contrário do entretenimento midiático convencional, Theo Montoya adota uma postura explícita e engajada, amplificando as vozes dos invisibilizados, mesmo que algumas tenham sido rapidamente silenciadas. Não há gritos de ordem nem discursos utópicos. Ao expor as feridas abertas de uma geração, o filme deixa um gosto amargo ao final. Ainda assim, “Anhell69” é uma obra essencial para quem busca compreender as profundezas do desencanto e da resistência.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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