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“Amigos Imaginários” : Filme de John Krasinski acolhe a melancolia do crescer e a abraça como uma velha amiga | 2024

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Crescer não é um processo fácil. O cinema ama retratar a transição humana da fase infantil à fase adulta, e o faz através de abordagens diferentes dentro dos mais diferentes gêneros – são os chamados filmes “coming of age”, onde a inocência da infância é colocada em xeque e um revisionismo aos traumas é proposto como catapulta para a trama e para a jovem criança adulta acompanhada em tela.

É fácil montar uma lista com filmes assim, indo de “Conta Comigo” (1986) a “Red: Crescer é uma Fera” (2022), e passando por “Boyhood” (2014), “Moonlight” (2016), “It: A Coisa” (2017) e “Aftersun” (2022). Contudo, nenhum desses títulos tem uma tratativa tão humanamente fantástica quanto tem “Amigos Imaginários” (ou somente “IF”, conforme seu título original que levanta uma suposição ao questionar um enorme “SE” em tradução livre, e que se faz como sigla para os Imaginary Friends), filme escrito e dirigido por John Krasinski.

Com uma protagonista juvenil que navega entre a relutância do luto e a obstinação da própria idade, o filme imprime no público um vigor dubitável onde a realidade (não a *realidade real*, mas a experimentada por Bea) é questionada a todo instante por conta das interações dos amigos Imaginários que ela consegue ver e o mundo que a cerca. Isso colabora para que seja abraçada uma melancolia de autoconsciência solitária e, ao mesmo tempo, vulnerável.

Enquanto Bea tenta lidar com a doença do pai e a morte da mãe, a descoberta da capacidade de enxergar os amigos imaginários que outrora foram de crianças há muito crescidas se torna um refúgio para a menina (interpretada com um brilho voraz por Cailey Fleming) suportar as pressões e desilusões que se impõe à sua vida. É um filme infantil, com gracejos coloridos e piadocas de pum e queda, mas nitidamente feito para adultos. Esse é o caminho que o filme usa, junto da trilha incisiva de Michael Giacchino e da fotografia de Janusz Kamiński, para invadir o emocional da plateia para fazê-la acessar as crianças que já foram um dia.

Com uma dinâmica de engajamento através da fofura de seus monstros, o filme se vende como uma comédia familiar para atrair o maior número de crianças e pais desavisados, mas não se deixe enganar; leve um lenço. O filme endossa seu próprio viés melancólico e acaricia a alma adulta com um abraço triste e saudoso, conversando intimamente com as crianças interiores que abdicaram de seus amigos imaginários para, enfim, crescer. É uma obra sensível que, embora não muito profunda em sua primeira metade, adentra as tristezas da auto renúncia com uma sensibilidade ímpar e que rende uma das cenas mais emotivas do ano.

Assumindo um tom mais amistoso e apreciativo à filmografia de Krasinski, “Amigos Imaginários” reforça a inclinação do diretor a trabalhar laços familiares através de situações extremas que podem ser lidas de forma alegórica ou literal. Com um elenco de peso na dublagem dos monstros (Steve Carell, Awkwafina, Matt Damon, Bradley Cooper, entre outros) e nas performances humanas (Ryan Reynolds, Fiona Shaw), o filme cativa pela honestidade de seus personagens e principalmente por entender que todos somos ou já fomos crianças. Não é uma obra de complexidade intelectual; é uma jornada de identidade emocional.

 

Vinícius Martins

Cinéfilo, colecionador, leitor, escritor, futuro diretor de cinema, chocólatra, fã de literatura inglesa, viciado em trilhas sonoras e defensor assíduo de que foi Han Solo quem atirou primeiro.

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