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“A Vida de Chuck”: curioso conto de Stephen King ganha adaptação sensível nas mãos do sombrio Mike Flanagan | 2025

Lançado em 2020, o conto “A Vida de Chuck” faz parte de uma coleção de quatro histórias inéditas que o autor Stephen King publicou sob o título Com Sangue. Agora adaptado sob a direção do novo “Midas do terror”, Mike Flanagan, “A Vida de Chuck (2025)” é um curioso relato sobre o fim da vida, fenômenos sobrenaturais e os laços que nos prendem ao plano terrestre. Neste enredo, não encontramos a típica veia do terror apavorante de Stephen King, mas sim ecos de narrativas que envolvem amadurecimento e reflexões, muito na linha de filmes também adaptados de sua literatura, como “Conta Comigo” (1986) ou “Lembranças de um Verão” (2001).

Estruturado em três capítulos apresentados em ordem cronológica inversa, A Vida de Chuck revela na introdução o ponto de vista do personagem de Chiwetel Ejiofor, Marty, um professor de uma pacata cidade norte-americana que possui uma conexão com Chuck que só será revelada mais adiante. Nos telejornais e radios, uma série de eventos catastróficos na Terra começam a se desenrolar e ser anunciados. O fim do mundo chegou, e Marty precisa resolver as pendências de sua vida, como sua relação com uma ex-namorada do passado, vivida pela atriz Karen Gillan. Por toda parte, Marty vê um outdoor felicitando Chuck: “39 anos incríveis! Obrigado, Chuck!”. Aos poucos, a estranheza causada por esses outdoors e os relatos do fim do mundo vão fazendo sentido, permitindo ao público compreender quem é Chuck e o que significa aquela realidade catastrófica que se desenha na tela.

Saltamos para o capítulo do meio, o dia em que Chuck, interpretado por um sensível Tom Hiddleston, em uma viagem de trabalho, se depara com uma garota tocando bateria na rua e cede aos passos de dança, o que acaba gerando uma catarse coletiva, naquele que seria provavelmente o melhor momento do filme. Hiddleston, apesar de praticamente não ter falas ao longo da trama, tem a oportunidade de projetar seu carisma e explorar sua versatilidade como dançarino. Pena que o ator seja tão mal aproveitado neste segmento do roteiro, que decide reservar mais tempo para as origens do protagonista do que para sua versão adulta.

O capítulo final é dedicado à infância e juventude de Chuck, aqui interpretado pelos atores Cody Flanagan, Benjamin Pajak e Jacob Tremblay. Neste encerramento da história, ganham destaque as aparições de Mark Hamill (Star Wars), como o avô de Chuck, e da avó, interpretada pela ainda bela e inesquecível Mia Sara de “Curtindo a Vida Adoidado (1986)”. É principalmente nesta altura da narrativa que o elemento sobrenatural se desdobra, ao envolver um curioso cômodo da casa dos avós de Chuck que sempre permanece fechado e trancado com cadeado. Claro que a curiosidade de Chuck – e, por conseguinte, a do público – em saber o que há dentro daquele cômodo é despertada justamente nesta parte.

A narração perspicaz do filme fica a cargo do ator Nick Offerman, que faz um excelente trabalho ao guiar o público pela estrutura fragmentada do roteiro. O desempenho de Offerman com sua voz firme e impostada funciona bem para capturar muitos dos sentimentos dos personagens em tela.

“A Vida de Chuck” passou despercebido pelos cinemas norte-americanos quando estreou em junho de 2025 e foi um fracasso de bilheteria, arrecadando cerca de 6,5 milhões de dólares, apesar das críticas relativamente positivas. O filme deve ganhar fôlego nas plataformas de streaming e, certamente, merece ser apreciado pelo público brasileiro na telona, quando estrear esta semana.

Marcello Azolino

Advogado brasiliense, cinéfilo e Profissional da indústria farmacêutica que habita São Paulo há 8 anos. Criou em 2021 a página @pilulasdecinema para dar voz ao crítico de cinema e escritor adormecido nele. Seus outros hobbies incluem viagens pelo mundo, escrever roteiros e curtir bandas dos anos 80 como Tears For fears, Duran Duran e Simply Red.

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