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“A Matriarca”: Um agridoce drama familiar pensado para Charlotte Rampling brilhar | 2024

Poucas atrizes hoje podem gozar do prestígio de uma carreira tão respeitada e vasta quanto Charlotte Rampling. Ao longo de mais de quatro décadas de carreira, a intérprete britânica de 78 anos deu vida a inúmeros personagens marcantes, espalhando seu talento pelas mais diversas vertentes da sétima arte, que incluem trabalhos com realizadores renomados de Hollywood como Sidney Lumet (“O Veredicto”) e Alan Parker (“Coração Satânico”) e grandes nomes do cinema europeu como Lars Von Trier (“Melancolia”), Paul Verhoeven (“Benedetta”) e, sobretudo, François Ozon, com quem desenvolveu uma profícua parceria nos últimos vinte anos, tendo rendido obras do naipe de “Sob a Areia”, Swimming Pool” e  “Jovem e Bela”. Já em cartaz, emprestando sua imponência cênica ao monumental “Duna – Parte 2”, no qual interpreta a misteriosa Bene Gesserit mór Gaius Helen Mohiam, Rampling surge mais uma vez nas telas brasileiras com este “A Matriarca”.

Na trama, Rampling encarna Ruth, uma ex-fotógrafa de guerra alcoólatra que, após um acidente que imobiliza uma de suas pernas, precisa ficar aos cuidados do filho, com quem mal fala, e do neto, literalmente um desconhecido para ela e alguém que ainda sofre com a perda recente da mãe. É centralizando suas ações na gradual aproximação entre o jovem angustiado Sam (George Ferrer) e sua avó rabugenta que o longa escrito e dirigido por Mathew Seville vai estabelecer o seu olhar sobre as sempre complexas relações familiares.

Ao mesclar humor e drama, o filme funciona como mais uma plataforma para o brilho de Rampling. Fica evidente que tudo ali gira em função de sua personagem, o que não impede que o seu principal companheiro de cena dê o seu recado. O olhar da veterana, que transita entre a dureza e a afabilidade de modo impressionante, encontra no frescor e na inexperiência do rapaz uma inesperada conexão que, embora esbarre na já batida dinâmica entre mestre e pupilo, faz da interação entre essas almas que se curam pelo afeto algo sempre saboroso de acompanhar.

Escapando de alguns clichês e administrando bem outros, “A Matriarca” é mais uma história de aprendizado mútuo decorrente de uma convivência forçada num lugar isolado e bucólico, no caso, o belo interior da Nova Zelândia. Agridoce na forma como trata momentos que seriam (em tese) mais pesados, a condução de Seville não escapa de uma certa romantização da dor, principalmente quando se encaminha para o terço final. Contudo, oferece um palco digno para que uma das maiores atrizes em atividade possa mostrar – felizmente, em boa companhia – toda a sua grandeza e, claro, uma capacidade ímpar de hipnotizar espectadores mundo afora.

Alan Ferreira

Professor, apaixonado por narrativas e poemas, que se converteu ainda na pré-adolescência à cinefilia, quando percebeu que havia prendido a respiração ao ver um ônibus voando em “Velocidade Máxima”. Criou o @depoisdaquelefilme para dar vazão aos espantos de cada sessão e compartilhá-los com quem se interessar.

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