“A Batalha do Biscoito Pop-Tart”: Seinfeld estreia na direção de sátira sobre origem de biscoito da Kellogg’s l 2024
Na década de 60, em Battle Creek, Michigan, duas das maiores Companhias de cereais norte americanas tinham suas sedes ali: Kellogg’s e Post. Era uma competição acirrada para obter o maior market share e estar presente nos cafés da manhã das famílias americanas. Jerry Seinfeld interpreta Bob Cabana, funcionário da Kellogg´s e inspirado no verdadeiro criador do Pop Tart, que ironicamente se chama Bill Post (apesar de não ter nenhuma relação com a empresa Post). O Pop Tart é um fenômeno gringo da Kelloggs que basicamente consiste em um biscoito retangular fino recheado com uma espécie de geleia de morango ou de outros sabores. Para nós brasileiros, este marco da cultura americana não ecoa tanto no nosso imaginário como para Seinfeld por exemplo, que decidiu dirigir pela primeira vez e atuar em mais um filme que segue a tendência de dividir storytelling da criação de marcas afetivas como foi com “Air”(2023) e “Barbie” (2023) recentemente.
Claramente se divertindo e recém saído de suas turnês de stand up comedy pelos EUA, Jerry Seinfeld decidiu reunir uma série de amigos comediantes, provenientes principalmente do Programa “Saturday Night Live (SNL)”, para contar esta história de origem de um produto. De um lado Jim Gaffigan interpreta o que seria o CEO da Kellogg´s, Edsel Kelogg III, enquanto do outro lado do ringue Amy Schumer é a toda poderosa da Post, Marjorie Post. Um desfile de referências na tela tenta arrancar gags que na maioria das vezes não funcionam, como as aparições do representante da Empresa Quaker, reimaginado na figura de literalmente um Quaker de nome Isaiah Lamb (Andy Daly), sempre com cereais defasados e comendo nas beiradas da real disputa entre Kellogg’s e Post. Em outra situação, Bob Cabana vai buscar sua parceira de criação no Cabo Canaveral na Flórida, Donna Stankowski (Melissa McCarthy), e ela apresenta um de seus mais novos experimentos, um suco alaranjado. Seinfeld prova a bebida e manda um “Huum, esse suco tem um certo tang (um sabor marcante em inglês)” e McCarthy já emenda um “Opa! Esse é um bom nome para esse produto!”. São com situações desse tipo de humor barato que Seinfeld tenta povoar seu roteiro equivocado.
Todo o processo de criação do Pop Tart é desenvolvido como se fosse a corrida espacial e a Kellogg´s e a Post estivessem em uma disputa de quem colocará este produto “revolucionário” na mesa das famílias americanas primeiro. Para tanto, a Kellogg’s escala um time desastroso de profissionais para colocar o conceito de pé. O time formado por figuras caricatas vai desde um Chefe italiano que faz referência à marca Chef Boyardee até um guru fitness que realmente existiu chamado Jack Lalanne (James Marsden) e era aparentemente obcecado por seus bíceps. O time mais atrapalha do que ajuda, chegando ao absurdo do Chef Boy Ardee (Bobby Moynihan) desenvolver um Ravioli falante que tem vida própria…Acredite…
Muito pouco se salva neste debut de Jerry Seinfeld na direção. Quase nenhuma das piadas alcançam timing cômico e o fato de a cada 5 minutos aparecer um comediante novo com uma cameo ou uma participação especial, desgastam a estrutura do roteiro, já que tudo vira pretexto para alguém famoso aparecer na tela e causar algum frisson no público, o que inevitavelmente te tira da narrativa. Conceitos de piadas também são arrastadas à exaustão, (como a ideia de Jerry Seinfeld idealizar que por trás do mascote da Kellogg’s, Tony, O Tigre, haveria um ator inglês shakespeariano ressentido chamado Thurl Ravenscroft (Hugh Grant)) funcionam até a página cinco, mas depois ele se perde na piada…
Por outro lado, o cuidado da produção de reproduzir locações que remontam aos anos 60 e os figurinos vibrantes do elenco refletem o cuidado e a excelência de situar a história adequadamente no tempo e espaço. Méritos do Diretor de Fotografia Bill Pope, que carrega no currículo filmes como “Matrix” (1999), e a figurinista Susan Matheson.
Para um fã do seriado “Seinfeld” (1991-1998) como eu, fica um gosto amargo na boca ao constatar que o comediante Jerry Seinfeld perdeu a mão ao executar uma história curiosa como esta, da forma mais equivocada possível. Não há faísca alguma aqui da genialidade ou do humor ácido que fizeram o “Show sobre o nada”, que catapultou a carreira de Seinfeld, se tornar tão bem sucedido e posicionar a série no topo das melhores sitcoms já feitas para a tevê. É um filme sofrível e não acho improvável inclusive que a obra seja lembrada entre os indicados do Framboesa de Ouro de Pior Filme ou Pior Ator, para Seinfeld, no ano que vem.
Obs.: Atenção para uma cena fan service, muito bem bolada por sinal, que poderá agradar aos fãs de outro seriado icônico da TV, “Mad Men” (2007-2015).