“Matador de Aluguel”: Jake Gyllenhaal mergulha no universo da pancadaria em remake de filme cult dos anos 80 | 2024
“Matador de Aluguel” (1989) nunca foi um filme dos anos 80 memorável pela sua qualidade. No entanto, sua áurea violenta recheada de nudez explícita e o carisma de Patrick Swayze, no ápice de sua carreira, alavancou a obra trash ao panteão das fitas cults seja das antigas videolocadoras ou das emissoras de TV. O filme chegou inclusive a angariar, à época, a indicação a 5 Framboesas de Ouro como Pior Filme, Pior Ator e Pior Diretor em 1990.
O filme original produzido pelo Joel Silver ganha agora um remake “bombado”, também produzido por ele, com contornos mais modernos e com mais fôlego para traduzir cenas de ação frenéticas sob a condução do talentoso Doug Liman, de filmes como “A Identidade Bourne” (2002) e “Jumper” (2008). “Matador de Aluguel” estreou recentemente diretamente na Plataforma de Streaming Prime Video, à revelia do diretor, que insistiu com o estúdio para que a obra fosse lançada no cinema antes de ir para o Streaming. A polêmica tornou-se pública e Liman se desvinculou de fazer publicidade para o filme por sentir-se traído pela Amazon.
Controvérsias à parte, o longa aborda a história de Dalton (Jake Gyllenhaal), um ex lutador de UFC, que vive de bicos em competições de luta livre clandestinas após um desfecho dramático em sua carreira. Quando Frankie (Jessica Williams) o procura para oferecer um emprego fixo em seu bar à beira mar na Flórida como leão de chácara, ou bouncer em bom inglês, acaba aceitando as condições propostas com o intuito de colocar ordem na clientela problemática do lugar. A premissa absurda começa por aí, tanto no filme original quanto no remake os clientes do lugar agem como selvagens jogando garrafas de vidro na cabeça das pessoas, dando socos gratuitos em todo mundo, esfaqueando pessoas e agredindo até as bandas que tocam no local. A atitude dos frequentadores do bar chamado de Road House (nome do filme originalmente) é tão animalesca, que é preciso separar o público da banda com uma tela de arame para evitar que os cacos das garrafas atinjam os músicos…
Em meio às tentativas de Dalton tentar apaziguar os conflitos do local e descolar uma grana, ele acaba se envolvendo amorosamente com Ellie (Daniela Melchior), uma médica local que se torna especialista em tratar dos pacientes que chegam quebrados do bar. Enquanto na fita original a química sexual entre Patrick Swayze e a belíssima Kelly Lynch explodia na tela, o casal do remake não tem química alguma e o desenvolvimento da relação dos dois torna-se totalmente artificial e comprometida pelo ritmo dos acontecimentos do roteiro.
O filme busca oferecer ao público cenas de pancadaria extrema com uma dinâmica muito particular do diretor Doug Liman, com uso de cortes frenéticos e adoção excessiva de CGI que acaba criando um ballet visual brutal aos olhos de quem assiste. O approach do longa original colocava Patrick Swayze desferindo tapas e golpes bem mais realistas. Jake Gyllenhaal até tenta fazer o máximo possível com o fiapo de roteiro desta adaptação, seu esforço físico e dedicação para aprender artes marciais e ostentar o “shape six pack” é louvável, mas os diálogos capengas e o elenco de apoio fraquíssimo sempre levam a atuação do ator para baixo.
Os antagonistas interpretados por Billy Magnussen e pelo lutador de luta livre irlandês Conor McGregor comprometem o resultado final com suas atuações canastronas e afetadas. Se no original o elenco ainda contava com um carismático Sam Elliott como amigo de Dalton, aqui no remake descarta-se a existência dessa personagem colocando todo o peso da história nas costas de Gyllenhaal.
“Matador de Aluguel” tinha um potencial enorme para fazer bonito com uma roupagem contemporânea sobre a história do submundo das lutas de bar, porém fracassa ao tentar garantir um visual interessante, ainda mais sem a consistência de ter um roteiro bem construído por trás.