⚠️ VEJA OUTRAS CRITICAS DO PAPO EM NOSSO ACERVO (SITE ANTIGO).

ACESSAR SITE ANTIGO
PitacO do PapO

“Todos Nós Desconhecidos” Baseado em livro de Taichi Yamada, filme é um sensível conto fantástico

A dor do luto vez por outra é revisitada no cinema. Entre tantas formas de se falar sobre o tema, a escolha aqui é inserir bem no meio desse buraco no peito um romance inesperado quando nada parece ser favorável. O roteiro de “Todos Nós Desconhecidos” (“All of Us Strangers” no original) foi escrito por Andrew Haigh, muito conhecido por suas contribuições para o clássico gay contemporâneo “Weekend” (2011), o conto de amadurecimento “A Rota Selvagem” (2018) e a minissérie da BBC “Águas do Norte”. Embora ache que o filme seja muito mais do que um romance gay, pelos trabalhos anteriores do cineasta era previsto que esse projeto esbarrasse na temática.

Na história seremos introduzidos a Adam (Andrew Scott) que certa noite, em seu prédio quase vazio em Londres, tem um encontro casual com um vizinho misterioso, Harry (Paul Mescal), que muda totalmente o ritmo de sua vida cotidiana. À medida que um relacionamento se desenvolve entre eles, Adam vê crescer as memórias do passado e se vê atraído de volta à cidade pacata onde cresceu e à casa de sua infância onde seus pais (Claire Foy e Jamie Bell) parecem estar morando, exatamente como estavam no dia em que morreram há 30 anos.

Eu confesso que mesmo sendo aficionado por cinema, tenho reservas em assistir a trailers e ter informações prévias sobre qualquer projeto, e aqui isso é providencial, pois é a maneira como as peças desse xadrez são dispostas na narrativa é que dão o impacto que sentimos, e não necessariamente o fator surpresa. Nesse filme em específico, a diferença é gritante, pois o primeiro ato culmina numa revelação que devia ser chocante para a audiência – e o próprio Haigh parece estruturar o seu argumento de forma que os espectadores possam genuinamente sentir a mesma, mesmo que esse argumento já apareça na premissa.

Ainda que saibamos que as reuniões e os papos com os pais estejam somente na cabeça de Adam, há uma clima de mistério e fantasia, talvez produzidos pela trilha sonora um tanto etérea. Desses encontros saem diálogos profundos, que enquanto voltam ao passado também produzem cura por toda uma vida solitária vivida. Já o arco que envolve Harry é menos cativante, mas a relação amorosa não deixa de ser um componente crucial para uma compreensão mais completa dos sentimentos do protagonista. É bem verdade que “Todos Nós Desconhecidos” toca muito mais pelo que deixa em silêncio do que pelo que diz. O longa tem uma queda de ritmo quando investe nas viagens de álcool e drogas de Adam, mas que não invalidam a beleza ao tratar tantos temas dolorosos de modo delicado e envolvente.

 

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo