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“O Sabor da Vida”: Drama gastronômico com Juliette Binoche aguça apetite e romance | 2024

Tem algo poderoso que o cinema evoca quando aborda de forma eficiente a gastronomia e  seu papel fundamental na vida das pessoas. O alimento nos fornece os nutrientes que nosso organismo necessita para fazer o corpo funcionar, mas também alimenta a alma e preenche a vida de todos seja em um almoço em família, entre amigos ou um jantar romântico…É um ritual maravilhoso que o diretor vietnamita Anh Hung Tran usa como ponte para contar a história de  Eugénie (Juliette Binoche) e Dodin Bouffant (Benoît Magimel). Ela é a cozinheira e orquestradora de ceias maravilhosas que Dodin, um gourmand de mão cheia, oferece para seus amigos e pessoas influentes da comunidade rural francesa em 1889.

A abertura do filme é uma explosão de sabores que saltam da tela do cinema, Hung Tran dirige as cenas do cozimento das verduras, das carnes e a adição de temperos com tanta intensidade, que você praticamente sente os aromas e gostos de todos aqueles pratos saborosos que Eugénie magistralmente coordena. É um estímulo visual, olfativo e que sem dúvida aguça o paladar de uma forma que jamais vi no cinema recente.

Eugénie cozinha para Dodin há 20 anos e em algum momento da história dos dois, a afinidade gastronômica ultrapassou os limites da cozinha e ambos passaram a manter uma relação amorosa com regras e limites impostos por ela. Dormindo em quartos separados nessas duas décadas, Dodin sempre vai tarde da noite bater a porta de Eugénie: se a porta estiver trancada, não haverá relação sexual, se a porta estiver destrancada, Dodin pode entrar e passar a noite com ela. Tudo com muita sutileza e bom gosto, com direito a uma cena poética do derrière desnudo de Juliette Binoche à luz de velas.

Dodin se sente desafiado quando toma conhecimento que seu vizinho recebeu um príncipe e preparou uma ceia de duração de oito horas com um chefe por trás do deleite gastronômico. Com o intuito de ofuscar a refeição alheia, Dodin decide também convidar e receber o mesmo príncipe e montar para ele um menu em que o carro chefe será um Pot-au-feu, uma espécie de guisado de carne com ervas aromáticas.

O desafio lançado torna-se mais difícil à medida que Eugénie começa a apresentar sinais de desmaios e mal estar. Preocupado com o estado de saúde dela, Dodin passa a cozinhar pratos tão maravilhosos quanto os dela, culminando em uma surpresa marcante em uma das sobremesas em que ele prepara para ela.

A relação amorosa entre os dois, que cruza sentimentos e alimentos, é complexa e traz todo o mérito do roteiro do próprio Tran Anh Hung, inspirado no livro de Marcel Rouff, The Passionate Epicure. Nada aqui é escancarado, a narrativa é guiada pela gastronomia e pelo poder da sugestão e das sutilezas. A arte de contar boas histórias através de dinâmicas que muitas vezes dispensam diálogos. A relação do casal principal é linda e apaixonante. Em grande parte, as atuações de Binoche e Magimel alavancam a obra, existe química, sensualidade e uma cumplicidade de cortar o coração. Para quem não sabe, Juliette Binoche e Benoît Magimel foram casados na vida real de 1998 a 2003.

O final nos deixa devastados e com um nó no peito difícil de digerir após tantos estímulos apetitosos que desfilam em 2h15 de filme. É delicioso, é romântico, é trágico e inesquecível…

Marcello Azolino

Advogado brasiliense, cinéfilo e Profissional da indústria farmacêutica que habita São Paulo há 8 anos. Criou em 2021 a página @pilulasdecinema para dar voz ao crítico de cinema e escritor adormecido nele. Seus outros hobbies incluem viagens pelo mundo, escrever roteiros e curtir bandas dos anos 80 como Tears For fears, Duran Duran e Simply Red.

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