“A Longa Marcha – Caminhe ou Morra”: filme baseado no livro de Stephen King propõe uma distopia implacável e ultraviolenta | 2025

2025 é um ano prolífico para o autor de best-sellers norte-americano Stephen King. Estamos em setembro e, até o momento, já foram lançados três longas-metragens adaptados de livros e contos seus. Primeiro foi “O Macaco”, em seguida o recente “A Vida de Chuck”, e agora chegou aos cinemas o longa “A Longa Marcha – Caminhe ou Morra”, baseado no livro “The Long Walk” (em português, “A Longa Marcha”), escrito por King sob o pseudônimo de Richard Bachman em 1979.
Tanto o livro quanto o filme retratam a história de uma exaustiva competição anual em que 50 adolescentes devem caminhar continuamente por uma longuíssima rodovia abandonada em um futuro distópico; aqueles que diminuem o ritmo ou desistem da competição são executados por militares implacáveis que acompanham a “Longa Marcha”. Atrás dos jovens, esse comboio militar, com tanques de guerra e jipes carregando soldados com artilharia pesada, é liderado por um major interpretado pelo ator Mark Hamill. O jovem que conseguir sobreviver a essa competição recebe um prêmio generoso em dinheiro e a concessão de um desejo pessoal.
O filme assume o ponto de vista de Raymond Garraty (Cooper Hoffman) que, à medida que sua história se desenrola na competição, é o único a receber um contexto de flashback para explicar suas intenções ao aceitar participar daquela provação. Sua mãe é interpretada por Judy Greer, numa composição de cortar o coração. Em pouco tempo de cena, ela já nos emociona nos primeiros minutos da projeção.
É ao longo da caminhada que vamos sendo apresentados aos outros meninos e a seus contextos, que enriquecem a narrativa mesmo sem o roteirista recorrer a flashbacks para gerar empatia ou interesse por suas histórias. Um senso de camaradagem e parceria nasce das condições mais absurdas e severas às quais aquele grupo é exposto. Raymond acaba criando uma conexão com Peter McVries, numa interpretação absolutamente arrebatadora do ator David Jonsson, que já havia brilhado no filme “Alien: Romulus” (2024). Jonsson domina a tela e ofusca o protagonista em praticamente todo o filme.
O senso de companheirismo e de aventura que os meninos experienciam evoca o mesmo sentimento retratado em outro filme baseado na obra de Stephen King, “Conta Comigo” (1986). Só que, se no filme de 86 o clima era muito mais leve (mesmo tendo como motivação a busca por um corpo) e com pinta de “Sessão da Tarde”, “A Longa Marcha” é um relato ultraviolento no qual o diretor Francis Lawrence (da saga Jogos Vorazes) não poupa o público de execuções crueis e com requintes de crueldade. Sua camera nunca se furta de mostrar cabeças estourando ou partes de corpos dilaceradas a medida que os jovens avançam na caminhada.
O roteirista JT Mollner também não entrega nada sobre aquele futuro distópico, a não ser a decadência das localidades por onde os meninos percorrem ao longo da rodovia que cruza os Estados Unidos, com animais mortos à beira da estrada, lojas abandonadas e crianças e adultos que os observam sempre com uma fisionomia triste e desoladora. Deduzimos que uma guerra civil devastou o país e que, agora, aquela nação encontra-se controlada por um regime militar e totalitário, sofrendo uma depressão econômica.
Não nos simpatizamos só pelas histórias de Raymond e Peter; o elenco traz uma penca de outros talentosos atores que, mesmo com uma participação breve, acabam trazendo mais cor à narrativa e nunca entediando, mesmo que o longa seja praticamente um “grande plano contínuo” de movimento ao longo de uma estrada. O diretor Francis Lawrence consegue empregar dinamismo e senso de movimentação com seus travellings eficientes e sua câmera que entende o ritmo da narrativa.
“A Longa Marcha — Caminhe ou Morra” é um filme devastador e um alerta para os caminhos sombrios por que uma sociedade pode enveredar, seja ao banalizar e espetacularizar a violência e o valor da vida. Não somos nada naquele tabuleiro de jogos e de terras arrasadas.