“Downton Abbey – O Grande Final”: terceiro filme baseado na série renomada reúne seu elenco talentoso para seu último suspiro | 2025

A série “Downton Abbey” foi um sucesso de crítica desde sua estreia em 2011. O roteiro impecável de seu criador, Julian Fellowes, a belíssima direção de arte e o talentoso elenco absolutamente carismático permitiram que essa família atravessasse gerações na TV e, inclusive, migrasse para os cinemas com três capítulos cinematográficos. Embora os filmes não tenham capturado tão bem o mesmo efeito que a série causava nas telinhas, eles ofereceram à produção a oportunidade de ostentar uma escala maior, tanto nos figurinos quanto nas locações grandiosas (o segundo filme se passa, em boa parte, na Riviera Francesa).
A incursão da saga da família Crawley nesses três filmes começou com uma adaptação para o cinema empolgante do que teria acontecido com as personagens tão amadas pelo público após o “series finale” em 2015. No entanto, perdeu o fôlego no segundo filme, com uma trama bobinha sobre o resgate de uma vila francesa, fruto de uma herança deixada para Violet Crawley (Maggie Smith). Agora, chega aos cinemas o capítulo final de Downton Abbey, uma espécie de encerramento que não apenas busca agradar aos fãs trazendo várias referências à série original, mas também apresenta o impacto das mudanças no mundo dos anos 30 na vida daquela família e de seus criados.
Logo de início, somos impactados com a notícia de que Lady Mary (Michelle Dockery) está desquitada, o que causa um rebuliço na alta sociedade inglesa, desencadeando uma sucessão de infortúnios, como a exposição da notícia nos tabloides da época e, inclusive, um constrangedor convite para que ela se retire de uma festa oferecida por Lady Peterfiled (Joely Richardson) à elite britânica. Como se esse desgosto já não fosse suficiente para os Crawleys, o irmão de Cora (Elizabeth McGovern), Harold Levinson (Paul Giamatti), traz péssimas notícias sobre as condições financeiras da família nos Estados Unidos. Todos terão que se mobilizar para apagar os incêndios financeiros causados pelo irresponsável Levinson, chegando até a abrir mão de algumas propriedades da família na Inglaterra para cobrir os prejuízos.
Em meio ao desquite e às dívidas, Lady Mary ainda encontra tempo para iniciar um romance com o consultor financeiro que acompanha seu tio Levinson em Downton Abbey, o misterioso Gus Sambrook (Alessandro Nivola). São tantas subtramas que o filme se mostra incapaz de equilibrar o tempo de tela de todo o elenco, o que, por exemplo, reduz ao mínimo a participação de luxo de Paul Giamatti. Curiosamente, o roteiro decide dar espaço à estranheza causada naquela sociedade pela relação afetiva entre Thomas Barrow (Robert James-Collier) e o ator Guy Dexter (Dominic West), explorada no filme anterior. Barrow, agora assistente pessoal de Dexter, vive em um mundo cheio de celebridades, o que adiciona à já extensa lista de personagens a presença de um dramaturgo e compositor de jazz que realmente existiu e visita Downton Abbey como parte do núcleo Barrow/Dexter: Noel Coward (Arty Froushan).
Sem o componente de humor ácido brilhantemente proporcionado pela atriz Maggie Smith, falecida em 2024, a ausência de sua personagem, Violet Crawley, é verdadeiramente sentida. Ela era um elemento crucial na dinâmica da série e dos filmes anteriores, tornando esta obra mais carrancuda e emotiva do que o habitual. Apesar disso, todos os atributos que acompanham o legado de Downton estão presentes: figurinos luxuosos, uma trilha sonora impactante e a reconstituição de época, desta vez alavancada por locações que emulam os anos 1930, incluindo uma visita da família a Londres.
Curiosamente, o filme dialoga, de certa forma, com temas abordados em outra série de Julian Fellowes, “Gilded Age”, da HBO Max, cuja terceira temporada também explora o impacto negativo das mulheres desquitadas sobre as tradições da alta sociedade norte-americana no final do século XIX.
De fato, aqui se concretiza o “Grand Finale” do titulo do filme, que encerra a saga da família Crawley com uma cena repleta de easter eggs, oferecendo fan service suficiente para deixar qualquer admirador da série com um sorriso no rosto. A decisão sábia de sair de cena sem macular o que esta série construiu tão bem ao longo desses anos…