“Quebrando Regras”: longa traz história feminista inspiradora sobre coragem e esperança | 2025
Roya Mahboob foi uma menina afegã que cresceu num clima de medo e repressão sob o regime do Talibã, um governo radical que não respeita os direitos humanos básicos e suas liberdades fundamentais; que impõe severas restrições aos direitos das mulheres, as proíbe de trabalhar fora de casa e de fazer o ensino superior. Ela teve oportunidade de estudar, privilégio esse que sua mãe e avó não tiveram, só que Roya não podia usar os computadores novos que chegaram na escola, somente os meninos podiam aprender a mexer naquela máquina nova e fascinante. Roya cresceu, se formou, virou empreendedora e ousou desafiar as normais sociais para empoderar outras meninas afegãs através da educação e tecnologia; com uma iniciativa ousada ela formou o time feminino de robótica “Afghan Dreamers” (Sonhadoras Afegãs). – por muito menos a ativista paquistanesa e Prêmio Nobel da Paz Malala Yousafzai levou vários tiros na cabeça a caminho da escola. É essa história incrível que é retratada no longa “Quebrando Regras”.
Subvertendo a expectativa de quem pensa que vai se deparar com um drama pesado sobre repressão feminina, o diretor Bill Guttentag entrega um filme otimista, uma história de superação que inspira qualquer pessoa a enfrentar todos os obstáculos para alcançar seus sonhos. A trama acompanha a jornada desse time feminino de robótica em suas competições internacionais e nos muitos desafios culturais, sociais e para desenvolver e operar seus robôs com diversas funções. Jovens talentosas, inteligentes e curiosas que sempre foram freadas por costumes arcaicos, mas que dessa vez tem uma chance para trabalhar no que amam e serem valorizadas por isso. Elas sim são o que hoje em dia se chama de “resistência”.
Num ritmo de videoclipe, o roteiro explora a importância da educação e seu poder de transformar vidas, o quanto o ensino dá dignidade e ferramentas pra evoluir; e claro, aborda a força e determinação feminina na busca incessante pela igualdade de gênero. A história, muito sabiamente, não toca nas sucessivas invasões americanas no Afeganistão, que acabaram por levar o Talibã a dominar novamente o país e subjugar seu povo. Os muitos percalços enfrentados pelas garotas, um atentado, atrasos, visto negado, são resolvidos de forma simplista, apressada e sem continuidade, uma falha do roteiro que quebra a narrativa mas que não tira o seu brilho.
Essa cativante jornada das estudantes já foi produzida anteriormente no documentário de 2022 “Afghan Dreamers”. No longa de 2025 a história original ganha pitadas de liberdade criativa que garantem uma ótima carga emocional. A evolução das meninas na montagem e manipulação dos robôs é gostosa de acompanhar, assim como as competições entre os estudantes do mundo todo (tem também o time do Brasil lá). A animação da disputa, o empenho com seus projetos e principalmente o intercambio cultural e o companheirismo entre os aficionados por robótica fascinam ainda que o espectador não entenda nada sobre o assunto. O elenco é excepcional, mesmo com experiência de iniciantes as protagonistas são competentes em comover nos momentos de sofrimento, aflição, alegria; na derrota e na vitória. Destaque também para a participação da atriz Phoebe Waller-Bridge ( da premiada série “Fleabag”) que agrega ainda mais charme ao filme.
“Quebrando Regras” celebra a coragem não só das meninas do Sonhadoras Afegãs, mas também do povo do Afeganistão, a maior vítima dessa repressão, lutando pra ser feliz apesar de tudo, e principalmente para manter sua bela identidade cultural em meio ao caos. Em uma das cenas a protagonista Roya diz uma frase que sintetiza o espírito desse belo filme: “Nós podemos reclamar, ou nós podemos lutar”.
