“Na Teia da Aranha”: longa retrata diretor em busca de sua obra-prima em um set à beira do colapso | 2025

Dirigido por Kim Jee-woon, “Na Teia da Aranha” parte de uma obsessão: e se um diretor, convencido de que sua obra está aquém do potencial, decidisse refilmar o final, acreditando que dessa vez alcançaria a perfeição? A partir dessa premissa, o filme se instala numa espiral de bastidores tensos, vaidades em choque e um set prestes a colapsar.
Ambientado na Coreia dos anos 70, período marcado pela censura e pelo controle estatal, o enredo acompanha Kim Yeol (Song Kang-ho), cineasta que, às escondidas, conduz uma refilmagem do desfecho de seu próprio filme. Em meio a produtores nervosos, censores vigilantes e atores que mal compreendem suas motivações, ele tenta materializar sua visão artística. Enquanto isso, a obra dentro da obra, um drama doméstico, sombrio, filmado em preto e branco, começa a adquirir contornos mais envolventes do que o próprio processo caótico de sua criação.
As figuras típicas do “filme dentro do filme” estão todas lá: a estrela narcisista, a produtora gananciosa, a colega invejosa, o ator apaixonado e desiludido, o diretor obcecado por um ideal inalcançável. A caricatura é assumida, e não há problema nisso. O que incomoda é a necessidade de reafirmar o tempo todo o que já está claro. O filme parece não confiar no que constrói, como se cada piada precisasse ser explicada, cada conflito reiterado, cada gesto repetido até perder o impacto. A crítica à censura, aos egos inflados e à própria mitificação do processo criativo até se delineia, mas se dilui num humor que insiste em mastigar suas ideias. O que poderia ser ágil e irreverente torna-se insistente, preso à própria verborragia.
Song Kang-ho, um dos grandes nomes do cinema coreano contemporâneo, reconhecido internacionalmente por “Parasita”, mas com uma trajetória marcada por atuações memoráveis em filmes como “O Hospedeiro” e “Memórias de um Assassino”, aqui se vê limitado por um personagem sem nuances. Seu Kim Yeol é um arquétipo reiterado à exaustão, não por falta de recursos do ator, mas por uma direção que parece incapaz de operar em outra frequência. O nervosismo do protagonista, por exemplo, nunca se sustenta apenas nos gestos ou no olhar, sendo constantemente reforçado pela mesma ação mecânica de sacar um vidro de remédios e ingerir mais uma pílula. A repetição, longe de intensificar o drama, apenas o desgasta.
Ironicamente, o filme dentro do filme respira melhor, talvez por não tentar agradar o tempo todo. Já a metanarrativa que o envolve grita, repete, mastiga cada gesto como se o público precisasse de tradução simultânea. O resultado é um pastiche verborrágico, excessivamente satisfeito com sua própria esperteza. E convenhamos, toda vez que uma piada precisa ser explicada, morre um pouco da graça, e nasce um pouco de vergonha alheia. Quem entendeu, ótimo. Quem não entendeu… segura firme, porque a mesma cena vem aí com legenda, dublagem e talvez um power point.