“Em rumo a uma Terra desconhecida”: drama sobre refugiados palestinos revela o calvário de dois primos na Grécia | 2025
Em uma pesquisa rápida pela internet, é possível constatar que, entre 2021 e 2023, cerca de 10.200 palestinos imigraram para a Grécia, representando o terceiro maior grupo nacional desse período naquela região, ficando atrás apenas dos sírios e afegãos. É sobre esta realidade que o filme “Em Rumo a uma Terra Desconhecida” (2024) visa retratar ao acompanharmos dois refugiados árabes em Atenas: os primos Chatila (Mahmoud Bakri) e Reda (Aram Sabbah). Ambos vivem em condições precárias e se sustentam através de pequenos furtos em praças da cidade ou lojas das redondezas. O único desejo dos primos é conseguir pagar um mafioso da região para conceder-lhes passaportes falsos com o intuito de migrarem da Grecia para a Alemanha e la montarem um café.
A partir do momento que uma criança refugiada de Gaza cruza seus caminhos, os primos decidem ajudar o garoto de 13 anos a viabilizar sua viagem para a casa de uma tia na Itália. É aí que entra em ação uma senhora grega local que se interessa por Chatila, Tatiana (Angeliki Papoulia), e pode ser a resposta para ajudá-los nesta empreitada permeada por golpes e falsidade ideológica.
O diretor e roteirista originário dos Emirados Árabes Mahdi Fleifel levou 11 anos para conseguir financiar, filmar e lançar esta obra. Em entrevista ao Deadline Hollywood, ele compartilha a dificuldade de conseguir apoiadores para mais um filme com a temática de refugiados: “eu queria mostrar uma perspectiva diferente sobre a realidade destas pessoas, inclusive adotando o pano de fundo de um thriller de crime que se desenrola em Atenas”. Aclamado pelo seu documentário “Um Mundo que Não é Nosso” (2012), sobre refugiados no sudeste do Líbano, Fleifel tem aqui a oportunidade de construir uma narrativa realista e que se beneficia de seu olhar documentarista. Acostumado a capturar os infernos pessoais dos refugiados e exilados de diversas nações com uma câmera de mão, o diretor estabelece uma dinâmica crua e angustiante dos dois primos tentando sobreviver nas ruas da Grécia.
Basicamente todo apoiado nas ótimas atuações de Mahmoud Bakri e Aram Sabbah, o filme ganha ao adotar essa estética de documentário urbano, empregando uma trilha sonora pontual que aparece em um momento ou outro da narrativa, bem como a utilização de uma fotografia granulada garantida pelas filmagens em 16mm em ambientes muitas vezes escuros, sem luminosidades.
Não existem caminhos fáceis para Chatila e Reda e cada vez que se afundam mais em crimes e contravenções na história, seus destinos parecem se distanciar exponencialmente do horizonte ou do Oásis representado aqui pela Alemanha. Atenas não passa de um purgatório (ou seria o inferno?) para os jovens refugiados, colocando uma lupa sobre a falta de políticas públicas para endereçar os problemas desta classe de pessoas que não conseguem se inserir na sociedade e tampouco encontrar refresco em um mundo contemporâneo cada vez mais anti-imigrantes.
O tema tratado em “Em Rumo a uma Terra Desconhecida” é de extrema relevância atualmente e propõe um debate importante sobre a realidade dos refugiados na Europa. O descaso das nações europeias gera um ambiente propício para a falta de segurança e aumento da criminalidade, tópicos abraçados com gosto pelo diretor deste Longa. Finda sendo uma jornada de anti-heróis em busca da Terra prometida.
Laureado em mais de 20 premiações internacionais em 2024, o Longa-metragem de Mahdi Fleifel tem um relevante componente político que vale a pena ser conferido especialmente por retratar sem pudor o calvário que tais refugiados vivenciam todos os dias pelo mundo afora. É cinema corajoso e cada vez mais necessário.
