⚠️ VEJA OUTRAS CRITICAS DO PAPO EM NOSSO ACERVO (SITE ANTIGO).

ACESSAR SITE ANTIGO
PitacO do PapO

“Bolero, A Melodia Eterna”: cinebio do compositor Ravel aborda processo criativo de uma das maiores obras musicais de todos os tempos | 2025

Bolero, música orquestral escrita pelo compositor Maurice Ravel, é uma das melodias mais conhecidas do mundo, você pode não conhecer o autor ou mesmo o título dela, mas certamente já ouviu e a reconhece logo nas primeiras notas. Apoteótica, vivaz, hipnotizante: Bolero contagia e marca, por isso é uma obra-prima, um clássico revisitado inúmeras vezes e em diversos formatos. O longa “Bolero, A Melodia Eterna”, presente na seleção do Festival Varilux de Cinema Francês 2024, mergulha na vida de Maurice Ravel e na origem de sua maior composição.

A trama se passa na Paris de 1928, os Anos Loucos (“Années Folles” em francês), um período social e culturalmente efervescente onde o otimismo pós-guerra estava no ar com a economia em recuperação; saraus, balés, óperas, restaurantes sofisticados e peças de teatro movimentam a noite da Cidade Luz. A coreógrafa e bailarina Ida Rubinstein encomenda a Maurice Ravel a música para seu próximo balé, um espetáculo de vanguarda que teria que impactar a plateia. Em meio a um bloqueio criativo e aos dilemas entre arte e comércio que o perturbam, Ravel aceita a empreitada que mudaria sua carreira.

Raphaël Personnaz (Alexander Vronsky em “Anna Karenina”, de 2012) vive Ravel com brilhantismo, um homem charmoso e sedutor, que vive rodeado de mulheres mas que reprime suas emoções e sexualidade, ele não quer compromisso com nenhuma, nem mesmo com Misia, irmã do seu melhor amigo por quem nutre uma paixonite. Sua performance é minimalista, de um homem com sensibilidade aguçada e obcecado por sua arte (não seriam todos os compositores?), com sorrisos contidos e gestos sóbrios. Ravel tem uma alma atormentada, sempre angustiado diante do sucesso estrondoso de Bolero e frustrado pela “invisibilidade” de suas outras peças, e esse turbilhão emocional não cessa.

“Bolero, A Melodia Eterna” é um filme bem cuidado, com uma linda cenografia nos ambientes aristocráticos, na ópera luxuosa e animados clubes de jazz. Os figurinos e a maquiagem são primorosos, numa época em que o exagero era a regra. Anne Fontaine, diretora e também roteirista, constrói uma narrativa com bom ritmo, fazendo um paralelo preciso entre a criação de “Bolero” e o nascimento de um filho: devagar, nota a nota dedilhada nos teclados do piano, entre dúvidas e certezas. Criar é agonia e glória, o processo de gestação requer paciência e dedicação, e assim como num parto, depois da dor vem a recompensa imensurável. Apesar da competência com que dirige “Bolero, A Melodia Eterna”, Fontaine não alcança o mesmo feito que em “Agnus Dei” (2016) ou em “Coco Antes de Chanel” (2008), pois o longa não tem a exuberância, muito menos faz o coração acelerar como a música espetacular que ele retrata.

Karina Massud

Formada em Direito, cinéfila desde os 5 anos de idade, quando seu pai a levou para assistir “Superman-o Filme”. Cachorreira, chocólatra, fã ardorosa de séries, músicas, literatura e tudo que emocione.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo