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“Redenção”: Drama espanhol explora perdão e reconciliação entre vítimas e autores de terrorismo do ETA | 2024

O drama espanhol da diretora Iciar Bollain, “Redenção”, tem como seu ponto alto a marcante atuação da atriz Blanca Portillo, interpretando Maixabel Lasa, uma ativista e política espanhola cujo marido, Juan Maria Jauregui, foi assassinado pelo grupo ETA. O ETA foi uma organização terrorista que buscava a criação de um estado socialista e independente da Espanha e atuou de 1958 a 2018. Estima-se que o ETA seja responsável pela morte de cerca de 864 pessoas, e Jauregui foi uma dessas vítimas. Ele foi o governador de Guipuzcoa, um dos territórios espanhóis que compõem a comunidade autônoma do País Basco.

Com um início tenso e dramático, o filme cobre o assassinato encomendado de Jauregui em um café, seguido pelos desdobramentos desse fato na vida de sua esposa, Maixabel, e de sua filha Maria, que aprendem com dificuldade a lidar com a dor de perder um ente querido ao longo dos anos, precisamente 11 anos. Os terroristas são presos, e um deles decide enviar uma carta aos familiares de suas vítimas mostrando interesse em encontrá-los para pedir perdão. A partir daí, o filme centraliza toda a discussão em uma premissa: seria possível perdoar o responsável pelo assassinato de um ente querido caso ele se arrependa no futuro?

Maixabel decide tomar a controversa decisão de encontrar os envolvidos no assassinato de seu marido e confrontá-los, Luis Carrasco (Urko Olazabal) e Ibon Etxezarreta (Luis Tosar). Paralelamente ao cotidiano de Maixabel e de sua filha, interpretada pela atriz Maria Cerezuela, o roteiro aborda o remorso e a desilusão dos dois guerrilheiros do ETA, que cumprem penas em regime semiaberto após vários anos no sistema carcerário. A vida de ambos parece estar estagnada e dramaticamente ligada aos inúmeros assassinatos praticados em prol de uma causa com a qual não concordam mais. O roteiro traz à tona esse interessante elemento de busca por reparação entre terroristas e famílias das vítimas como uma forma de seguir em frente ou pelo menos encontrar algum sentido no meio de tanta dor causada por atos terroristas.

A coragem de confrontar os terroristas que lhe causaram tanto mal só poderia partir de alguém tão especial e fora da curva como Maixabel. Em entrevista ao jornalista Giles Tremlett, do The Guardian, ela revelou que teve muita dificuldade em assimilar e lidar com o luto. Segundo ela, a palavra ódio não cabe nessa situação, mas sim uma espécie de raiva impotente. “Por que matar alguém? Por que matar Juan Mari?”, disse ela emocionada. A atriz madrilenha Blanca Portillo se destaca com sua atuação contida porém intensa. Sua interpretação de Maixabel transmite classe e, ao mesmo tempo, potência, especialmente nas cenas em que a personagem encara frente a frente os terroristas que mataram seu marido. Portillo é uma atriz com trabalhos excepcionais em seu currículo, tendo colaborado com Pedro Almodóvar em filmes como “Volver” (2006) e “Abraços Partidos” (2009).

Para aqueles que apreciam um bom “easter egg”, fiquem atentos à participação emocionante da verdadeira Maixabel Lasa no filme, em uma cena em que familiares e amigos cantam e prestam homenagem a Juan Maria Jauregui em frente ao memorial erguido em sua memória em uma montanha. Essa é apenas uma das várias cenas impactantes do filme, acompanhadas de uma trilha sonora original igualmente marcante de Alberto Iglesias.

Marcello Azolino

Advogado brasiliense, cinéfilo e Profissional da indústria farmacêutica que habita São Paulo há 8 anos. Criou em 2021 a página @pilulasdecinema para dar voz ao crítico de cinema e escritor adormecido nele. Seus outros hobbies incluem viagens pelo mundo, escrever roteiros e curtir bandas dos anos 80 como Tears For fears, Duran Duran e Simply Red.

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