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Festival do Rio 2024: “Abraço de Mãe”, de Cristián Ponce | 2024

Marjorie Estiano protagoniza filme de terror recebido com entusiasmo no Festival do Rio

Os chamados filmes de gênero, por alguma inexplicável razão, sempre caminharam às sombras do cinema brasileiro. No caso do terror, à semelhança do que ocorreu durante muito tempo em Hollywood, aqui ainda é encarado como um gênero menor, como uma espécie de oficina para cineastas em início de carreira. Essa me parece uma visão no mínimo equivocada, basta observar a vasta e celebrada obra de José Mojica Marins, que praticamente popularizou o gênero do terror no Brasil. Mais recentemente, filmes como “O Animal Cordial” (2017) e “Morto Não Fala” (2019) são excelentes demonstrações de que é possível trazer entretenimento de qualidade para as telonas, mergulhando nas múltiplas possibilidades que o terror permite explorar.

“Abraço de Mãe”, longa produzido pela Lupa Filmes, é a mais nova tentativa de consolidar o terror como um gênero a compor o caleidoscópio que forma o cinema brasileiro. Estrelado por Marjorie Estiano, o filme é ambientado no Rio de Janeiro durante uma impiedosa tempestade tropical que se abateu sobre a cidade em 1996. A trama acompanha Ana, uma jovem bombeira afastada após sofrer um ataque de pânico, que se reintegra a sua antiga equipe de resgate. Seu retorno é posto à prova quando a equipe recebe um chamado para evacuar um asilo com risco de desabamento. Ao chegarem no local, os bombeiros descobrem que os misteriosos moradores do asilo têm outros planos com a chegada da chuva.

O clima de tensão é construído pelo próprio ambiente. O asilo é um casarão decadente, quase em ruínas e em condições insalubres. Seus moradores estão sempre pelos cantos, como se fossem assombrações a vigiar a equipe de resgate. Ao verificarem que a construção está comprometida, os bombeiros informam à proprietária que todos precisam evacuar o local. A partir desse momento, cosias estranhas começam a acontecer, permitindo que os clássicos elementos do terror entrem em cena: sobressaltos, jump scares e o mergulho no sobrenatural, tudo potencializado por uma fotografia sufocante, que aposta acertadamente em planos fechados para transmitir medo e uma sensação de opressão.

Embora não apresente inovações estéticas dentro do gênero, a direção do argentino Cristian Ponce (“História do Oculto”) é bastante precisa. O controle sobre a câmera e a maneira como ele explora os jump scares sem que soem exagerados mantém o filme com os pés fincados no realismo, equilibrando muito bem a narrativa com os elementos sobrenaturais, que são apresentados com uma qualidade que não deixa a desejar a nenhuma produção hollywoodiana.

A performance de Marjorie Estiano também é digna de nota. Ao aceitar o desafio de embarcar em uma trama de terror, Estiano comprova que é uma das melhores atrizes de sua geração. Mesmo que os diálogos do roteiro não sejam muito inspirados, o trabalho da atriz demonstra que seu talento lhe permite atuar em qualquer tipo filme, de qualquer gênero. Sua disposição e entrega são um caminho aberto para explorar todo tipo de desafio dentro do cinema, sobretudo em produções que fogem às convenções estabelecidas pelo cinema nacional.

“Abraço de Mãe” é uma grata surpresa dentro dos filmes de gênero, revelando que o cinema tupiniquim pode e deve permitir-se beber de linguagens que abraçam o entretenimento sem culpa, pois uma história bem contada sempre terá a atenção do público. O longa foi exibido na 26ª edição do Festival do Rio e estará disponível no catálogo da Netflix a partir do dia 23 de outubro.

Vitor Pádua

Advogado que expia o juridiquês com a paixão pela fotografia e pelo cinema.

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