Festival do Rio: “Sebastian”, de Mikko Mäkelä | 2024
Assim como possibilitou avanços nas pesquisas para grandes acontecimentos na saúde, na educação, no mercado financeiro e na mobilidade, a tecnologia também colaborou para a difusão do sexo e das mídias que exploram a pornografia, mas é certo que também os inúmeros apps também contribuíram para conectar pessoas. Entra aí a discussão: até onde é saudável lançar mão da tecnologia para criar conexões reais? “Sebastian”, que passou por Sundance e pelo Festival do Rio, além desse fenômeno, também explora essa facilitação para jovens que querem ter uma vida financeira mais independente e usam o sexo para isso.
Na trama conheceremos Max (Ruaridh Mollica) , um escritor freelancer e aspirante a romancista de 25 anos que parece estar a caminho do sucesso nas esferas culturais de Londres. À noite ele encontra um tipo diferente de euforia, trabalhando como profissional do sexo sob o pseudônimo Sebastian e encontrando clientes através de uma plataforma de acompanhantes. Max usa as experiências como Sebastian para alimentar seus textos, mas luta para não perder o controle da vida dupla delicadamente equilibrada e precisa descobrir se o alter ego é só uma ferramenta para sua escrita ou algo além disso.
A direção de Mikko Mäkelä é sensível ao humanizar Max. Para isso sequências onde ele discute novos projetos com a editora são amplamente exploradas. Max procura sexo para uma pesquisa científica ou será que toda aquela experiência estaria mudando algo dentro dele? A direção prefere deixar essas respostas com o público e isso evoca um charme extra ao filme de Mäkelä.
“Sebastian” é sexy mas tem ares ingênuos, e tem em seu protagonista a figura ideal nas proposições de seu realizador. Ruaridh Mollica tem uma ar inocente e cria conexão imediata com a audiência. Passamos a torcer pelo êxito em suas inciativas, tanto profissionais quanto amorosas. Porque claro, uma vez mergulhado nesse universo há o risco de envolvimento, e ainda que isso não fique claro pra nós, o público, conseguimos sentir que através daquelas experiências algo muda na cabeça e no coração desse personagem trabalhado com respeito e muita consciência pelo realizador. “Sebastian” é um projeto que ultrapassa as linhas do gênero queer, propõe debates interessantes sobre usar, se deixar usar e ser usado.