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“É Assim que Acaba”: Adaptação de best-seller é trama realista e sensível sobre relação abusiva | 2024

Quando fui ao cinema ver “É Assim que Acaba” estava certa que iria me deparar com um filme romântico baseado em best-seller, mais um na avalanche dos tantos que têm sido adaptados pras telonas. Mas, para minha surpresa e alegria, assisti a um ótimo longa, com inúmeras qualidades e uma abordagem delicada sobre violência doméstica, esse tema sempre tão espinhoso e polêmico.

Na trama baseada no livro de 2016 da escritora Colleen Hoover, conhecemos Lily Bloom (Blake Lively), uma mulher linda e carismática que se muda para Boston para realizar seu sonho de ter uma floricultura; ela parece ser feliz, porém fatos traumáticos do passado ainda a perseguem. Lá ela conhece Ryle, um neurocirurgião bem sucedido, lindo e envolvente que a princípio só quer sexo casual; mas o tempo passa e a relação se torna séria. Lily parece viver um conto-de-fadas com o amor da sua vida e os negócios prosperando, até que dois fatos acontecem e a crise começa: Atlas, seu primeiro amor, ressurge, e um “acidente” doméstico desencadeia um pesadelo anunciado.

A direção competente é do Justin Baldoni ( que também dirigiu ” A Cinco Passos de Você” e aqui vive o Ryle), ele imprime uma ótima cadência à narrativa, suave nos momentos de alegria, da realização do sonho da floricultura e na primeira fase do namoro quando tudo flui com leveza. A tensão é muito boa e cresce gradualmente na segunda fase quando a violência aparece em cenas dúbias, pois o foco não é na sua brutalidade, mas no que levou a ela. A edição e montagem são excelentes, com flashbacks pontuais que desvendam muitas dúvidas que pairam no início da trama quando, assim como Lily, acreditamos ter havido um mal-entendido aqui e acolá, e não atos violentos concretos. A trilha sonora é perfeita, as canções de Taylor Swift e Lana Del Rey traduzem o roteiro com precisão e emocionam.

Em 2020, quando influenciadores literários passaram a indicar os livros de Colleen Hoover no Tik Tok, “É Assim que Acaba” viralizou, e a autora, que mesclou ficção com experiências próprias na história, foi acusada de romantizar a relação tóxica. Eu discordo totalmente. Ela apenas mostra a perspectiva da protagonista Lily, que não tem muita clareza e demora a admitir que se acostumou a alguém tóxico que ela pensa amar, até que um dia tudo transborda e ela tem um insight – momento que, para muitas mulheres agredidas, infelizmente nunca chega. Mergulhamos no romance às avessas e nos tornamos solidários com a adorável protagonista; ficamos aflitos vendo que Ryle é um “golpe ambulante”, que Lily está cega e as coisas não vão acabar bem. Mas ela está apaixonada, vivendo um sonho lindo, e não é fácil acordar dele.

Quanto mais sucesso tem um livro, maior é a expectativa em relação a sua adaptação pro cinema, por isso muitos fãs cobram fidelidade à obra. Para mim adaptar é usar uma história como base, e não ser idêntico a ela. Não li o romance, mas garanto que o filme é excelente, ele não apenas entretém, como é um alerta importante num mundo onde a violência e o feminicídio têm aumentado assustadoramente.

Querida leitora, quando sua amiga te avisar, ou quando todos os indícios mostrarem que você está com alguém narcisista, que te sabota, que quer te confundir e te fazer de louca; ou quando você se engana justificando uma agressão verbal ou física: Cuidado! Você está vivendo uma relação abusiva, e isso vai minar sua autoestima e destruir sua vida. Por favor, quebre o silêncio e o ciclo de violência, antes que seja tarde demais. “É Assim que Acaba” é um filme americano, porém a violência contra a mulher é universal, e no ano em que a Lei Maria da Penha (lei brasileira que protege as mulheres vítimas de agressão) completa 18 anos, um longa como esse é muitíssimo bem-vindo.

Karina Massud

Formada em Direito, cinéfila desde os 5 anos de idade, quando seu pai a levou para assistir “Superman-o Filme”. Cachorreira, chocólatra, fã ardorosa de séries, músicas, literatura e tudo que emocione.

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