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“Mais Pesado É o Céu”: Petrus Cariry encontra poesia em meio à desesperança em novo filme | 2024

O cearense Petrus Cariry (“A jangada de Welles”, 2019) tem cinema no seu DNA.  Seu pai, o desbravador Rosemberg Cariry (“Corisco & Dadá”, 1996) cujo legado acumula inúmeras marcas não só para o cinema cearense como também no cinema brasileiro como um todo, formou não só mais um cineasta com o carimbo à la ‘filho de peixe’, mas também entregou para o mercado, tão carente de um cinema autoral,  um homem que entende sua gente como ninguém e transpõe para a tela todo o sentimento do povo que habita no Brasil profundo. Não existem caricaturas em seus projetos, a sensação é que a realidade, por mais dura que seja, é trabalhada como a mais fina poesia.

Em uma entrevista com Cariry, ele me revelou que inicialmente “Mais Pesado É o Céu”, que acabou de chegar aos cinemas depois de acumular prêmios no Brasil e mundo afora, seria um road-movie solar em um país pós-pandemia, e conforme a trama foi avançando, os rumos da história e de seus protagonistas foram sugados para o vazio de uma vida sem rumo e sem perspectivas, onde nãos são costumeiros e  a maldade ao redor dilacera.

O longa acompanha a dupla Teresa (Ana Luiza Rios) e Antônio (Matheus Nachtergaele), que viajam rumo a Jaguaribara, uma cidade submersa no Ceará. Ele é um paulista que, após a pandemia, deseja retornar à cidade onde fora feliz há muito tempo. Já ela é nascida nesse município fictício e busca um reencontro com o passado antes de partir para Fortaleza para tentar mudar de vida.  Durante a caminhada, longa e difícil, eles se encontram e passam a se apoiar, e ao longo de toda a peregrinação, encontram um bebê e acabam adotando a criança, que batizam de ‘menino’. No meio de tanta desesperança, surge Fátima (Sílvia Buarque), uma mulher que foi abandonada pelo marido e vive sozinha, mas com algum conforto no meio do nada. Essa mulher será responsável por mudar os planos da dupla e fazer eles se aproximarem ainda mais em prol da criança que carregam.

Cariry é um regente sensível e extraordinariamente competente ao condensar beleza e desgraça nas mesmas proporções. Muito do que contribui para seu triunfo para entregar um projeto tão denso e tão poético, é o aparato do elenco que arrebanhou. São poucos personagens, mas todos eles, além dos protagonistas, deixam sua marca na história de Antônio e Tereza. “Mais Pesado É o Céu” se encaixa no que costumo chamar de ‘filme de ator’, e, durante minha conversa com Petrus ele confessou seu esmero em tratar a dramaturgia de seu projeto.

Mas se engana quem pensa que “Mais Pesado É o Céu” se estabelece no dramático. Petrus ainda flerta com o cinema de gênero, o que dá um tempero a mais. O clima de suspense impresso desde os primeiros minutos, encontra a beleza de personagens que ostentam um certo mistério e o resultado é magia pura. Há uma sensação de salto no escuro, e o ritmo imposto pelo maestro Cariry deixa o coração em suspenso até seu final aterrador. O conjunto de acertos felizes que ainda compõem uma trilha sonora envolvente e quente, que criam uma conexão quase que divina com a fotografia acachapante, também de Cariry, confirmam “Mais Pesado É o Céu” como uma das realizações mais belas dentro do cinema nacional dos últimos anos.

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

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