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Festival de Cinema de Paraty: “Samuel e a Luz”, de Vinícius Girnys | 2024

Em “Samuel e a Luz” o cineasta Vinícius Girnys lança suas lentes sobre uma comunidade caiçara que vive no litoral do Rio de Janeiro, mais precisamente na histórica Paraty. A comunidade de Ponta Negra até muito pouco tempo vivia sem luz elétrica,  e é através da vivência e convivência do pequeno Samuel do título com sua família que veremos a metamorfose pela qual eles passam à partir da chegada do que entendemos como progresso.

O projeto, que é um documentário mas conduzido num formato ficcional, retrata o cotidiano idílico da família e daqueles que estão em sua volta. O ritmo da natureza e o desenvolvimento da identidade do pequeno Samuel são a tônica do longa, onde acompanhamos o garoto e sua família por cerca de seis anos. Aos poucos, surge uma realidade mais complexa e suas contradições, entre modernidade e tradição, natureza e tecnologia. A chegada da energia e do turismo nessa comunidade cristaliza a desconstrução de um paraíso idealizado, que por sua vez traça os contornos de um Brasil contemporâneo.

Girnys não tem pressa em retratar a realidade local, onde a pesca é o principal ganha pão da comunidade. É bonito ver como o realizador se ‘camufla’ por entra as matas, segue nos barcos com os sarrafos ou mesmo entre as conversas de comadres. Uma das mais ricas características do longa é seguir na contramão do que conhecemos como documentário. A sensibilidade de seu realizador em captar expressões e conversas descompromissadas é o que o longa tem de mais atraente. Na grande maioria das vezes o que mais reverbera em sua mensagem são os momentos onde não existe texto. São as imagens, assim como a bela fotografia de Pedro Cortese, que falam mais do que mil palavras.

“Samuel e a Luz” chega ao Festival Internacional de Cinema de Paraty com o estofo de prêmios como Melhor Documentário no FICG Guadalajara, no OIT na Colômbia e na Mostra de São Paulo. O doc mostra de um modo quase que contemplativo que tudo muda quando o progresso chega, para o bem ou para o mal.  No fim das contas, uma pergunta fica pulsando na cabeça: como Samuel, que nasceu sem luz e agora vai crescer iluminado, será impactado com isso? A produção obviamente não consegue responder isso prontamente. Mas nos faz olhar para dentro de nós mesmos.

 

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

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