“Twisters”: Produção vai além do espetáculo visual e celebra o melhor do ser humano | 2024
A “Sessão da Tarde” é um dos programas mais longevos da televisão brasileira e foi responsável pela popularização de diversos filmes, muitos deles repetidos à exaustão. Em tempos pré-streaming a popularidade foi tanta que alguns longas levam esse rótulo até hoje, como se o programa em si atribuísse um estilo próprio. Um dos melhores exemplares é “Twister”, lançado em 1996, que aborda um triângulo amoroso, caçadores de tornados e uma vaca voadora, o que por si só já garantem o engajamento. Mas, seria suficiente para uma refilmagem?
Se analisado de perto, há um elemento intrigante que conecta os quase 30 anos que separam as duas obras: o contexto climático. Desde então, nunca se falou tanto sobre clima, eventos extremos e o papel do homem nessa história. O longa dos anos 90, em meio à correria narrativa, apresenta um propósito que justifica a busca dos personagens: o desenvolvimento de “Dorothy”, um equipamento capaz de captar dados do tornado e com isso criar métodos de previsão e alerta, evitando muitas mortes. Dito isso, “Twisters” dá uma repaginada visual para alcançar o novo público, enquanto preserva o discurso original, mantendo o entretenimento em primeiro plano e lançando um olhar otimista em meio à tragédia.
Na trama, acompanhamos Kate Cooper (Daisy Edgar-Jones), uma ex-caçadora de tempestades que, após a ação devastadora de um tornado durante seus anos de faculdade, passa a viver uma vida solitária em Nova York. Anos depois ela é chamada de volta à sua cidade natal por seu amigo Javi (Anthony Ramos) no intuito de testar um sistema de rastreamento revolucionário. Lá, ela conhece Tyler Owens (Glen Powell), um astro das redes sociais, e juntos eles enfrentam fenômenos climáticos extremos, enquanto o passado traumático de Kate ressurge em meio às tempestades que assolam a região.
Na década de 1990, um dos maiores méritos de “Twister” foram os efeitos visuais, e nesse aspecto, a refilmagem não decepciona. Os efeitos digitais são extremamente convincentes, enquanto os efeitos práticos são ainda mais impressionantes. Para as cenas, foram utilizadas turbinas gigantescas, e Glenn Powell revelou em entrevista que o filme exigiu muito dele fisicamente. Inserido no subgênero “filme catástrofe”, o longa aproveita a premissa para ir além das impressionantes sequências de destruição, revelando em seu discurso um olhar otimista sobre a ação humana. Por um lado, isso é positivo, pois, de fato, em muitas tragédias, o melhor do ser humano se revela. No entanto, falta o contraditório, afinal, são dois lados da moeda: se somos parte da solução, também somos parte do problema. Nesse sentido, o filme opta pelo caminho mais fácil.
O longa é recheado de bons momentos, porém, as sequências que as conectam são menos interessantes e frequentemente motivadas por clichês já bastante batidos. Dois desses clichês, em particular, são tão recorrentes que tornam os desdobramentos previsíveis: a motivação derivada do trauma e a solução com um verniz coletivo, que no fim reforça o mito do gênio, apelando para um ato heroico individual.
Os grandes destaques são Daisy Edgar-Jones e Glen Powell, ambos em franca ascensão na indústria e transbordando carisma. Em “Twisters”, eles constroem uma química gradual, com um ritmo cadenciado, mas que faz sentido, já que o filme não se propõe a focar tanto no romance ou no apelo sexual. A interação entre os personagens se dá muito mais nos olhares e em outros pequenos gestos. Em resumo, “Twisters” tem tudo que um bom blockbuster pode oferecer e, mesmo com um roteiro raso, diverte e tem potencial para ser um fenômeno popular tão grandioso quanto o primeiro.