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Festival de Tribeca celebra a pluralidade artística de diferentes linguagens culturais e homenageia a carreira de seu fundador, Robert De Niro

Marcello Azolino, direto de N.Y

De 5 a 16 de junho, ocorreu, em Nova Iorque, o Tribeca Film Festival, o Festival de Cinema de bairro idealizado pelo ator Robert De Niro e seus sócios Craig Hatkoff e a produtora Jane Rosenthal. É uma oportunidade riquíssima de conferir filmes independentes, conversas com atores e realizadores de cinema, novidades no mundo dos games e da música. É também uma profusão de atrações que torna a experiência desafiadora de acompanhar ao longo dos 12 dias de eventos espalhados por teatros e salas de cinema de rua no Lower Manhattan.

O Festival foi criado em 2002 como forma de revitalizar a parte Sul da ilha extremamente atingida após os ataques do 11 de Setembro. Este ano especificamente Jane Rosenthal teve a ideia de criar uma celebração à carreira de De Niro, criando um evento paralelo chamado de DE NIRO CON. Foram vários painéis com filmes do ator veterano seguidos de debates, ou com ele ou com diretores do quilate de Martin Scorcese e Quentin Tarantino. Uma verdadeira ode ao Cinema com C maiúsculo, já que a carreira de De Niro perpassa produções estruturantes da História do Cinema, como a trilogia do “Poderoso Chefão” ou neo-noir “Taxi Driver” (1976).

Na Competição principal do Festival, os vencedores foram anunciados no dia 13 de junho, o ganhador do prêmio Founders Award foi “Griffin in Summer” (2024), uma comédia coming of age sobre um garoto de 14 anos que decide montar obsessivamente uma peça dramática que mistura “Quem tem Medo de Virginia Woolf” e “Beleza Americana” e desenvolve inesperadamente um crush pelo bad boy e faz tudo que está prestando serviços para seus pais na sua casa.

Do lado dos Documentários, a obra que foi laureada com o prêmio de Melhor Doc foi “Hacking Hate” (2024), sobre uma jornalista chamada My Vingren que busca investigar e desmontar redes supremacistas na internet.

Marcello Azolino direto do Festival de Tribeca, em N.Y, nos E.U.A

Eu tive a grata oportunidade de conferir alguns dos filmes e documentários que integraram o Line up desta edição e compartilho com os leitores do Papo de Cinemateca alguns desses destaques:

1 – Diane von Furstenberg: Woman in Charge (2024) – Documentário

Este mergulho particular na vida da estilista Diane von Furstenberg é uma oportunidade incrível de entender o que há por trás desta personalidade empreendedora que teve uma contribuição decisiva na forma da mulher se vestir ao criar o conceito do Wrap dress na década de 70. Sua origem no horror da Segunda Guerra, sua mãe era judia e teve Diane 18 meses após ter sobrevivido ao Campo de Concentração de Aushwitz, até seu casamento com um Príncipe aristocrata da família alemã Fürstenberg que arremessaria Diane no Jet set europeu, o que foi determinante para dar vazão e oportunidade ao seu talento criativo na moda.

O Documentário conta com relatos de pessoas como Oprah Winfrey, Hilary Clinton e Marc Jacobs e sua montagem dinâmica e fluída elevam a qualidade da obra que consegue capturar os principais elementos da estilista de forma honesta e inteligente. Von Furstenberg é uma potência e não há como não sair da experiência sem admirá-la mais ainda. O DOC chega à Plataforma de Streaming HULU no dia 25 de junho e terá distribuição internacional em breve pelo Disney Plus.

2 – Firebrand (2024) – Longa Metragem

O primeiro Longa Metragem em língua inglesa do diretor brasileiro Karim Ainouz, “Firebrand”, foi lançado em Cannes no ano passado. Contando com estrelas do quilate de Jude Law e Alicia Vikander, o filme foca na vida de Katherine Parr, a sexta e última esposa do Rei Henrique VIII. Enquanto ela tenta de todas as formas defender suas crenças como Protestante radical, Parr precisa conciliar um Henrique VIII delirante e tirânico, já no final de sua vida e com uma perna infeccionada e em putrefação. Vinkander é o verdadeiro Tour de force da obra, imprimindo uma atuação que reflete todo o jogo político e astuto da personagem para conseguir pequenas conquistas na Corte e para tomar decisões estratégicas como Rainha Consorte na ausência do Rei.

Com uma produção cuidadosa e reconstituição de época apurada, Karim faz bonito ao escolher este drama histórico para escancarar seu talento brazuca pelo mundo afora. Como curiosidade que praticamente foi o tema principal do Q&A com o elenco após a projeção do filme, Jude Law revelou que usou uma fragrância de odor fétido no set para causar repulsa no elenco em relação às cenas em que precisavam interagir com a perna em putrefação do Rei. O odor era uma mistura de cheiros de sangue, fezes e suor…

3 – Brats (2024) – Documentário

Dirigido pelo sex Symbol dos anos 80, Andrew McCarthy, “Brats” é um Documentário pessoal para o ator, que decide se reconectar com seus colegas dos filmes teens oitentistas como “A Garota de Rosa-Shocking” (1986) e “O Primeiro Ano do resto de nossas vidas” (1985). É uma jornada para tentar achar figuras como Emilio Estevez, Demi Moore e Rob Lowe e garantir entrevistas que buscam dissecar o que foi o fenômeno do “Brat Pack”, esta denominação que um artigo da Revista New York reduziu os atores e aparentemente amaldiçoou o grupo que vive até hoje na sombra dos filmes coming of age oitentistas.

Enquanto McCarthy tenta fazer ligações e garantir suas entrevistas exclusivas desses amigos que ficaram no passado, ele procura entender o impacto na Cultura POP do Brat Pack e reverenciar esse passado que se tornou sinônimo do Lexicon da adolescência independentemente da cultura ou língua que você fala. Os temas retratados nos filmes de John Hughes são universais e como o DOC mostra, ainda ecoam décadas após seus lançamentos.

4 – Between the Temples (2024) – Longa Metragem

O novo filme do ator Jason Schwartzman é uma comédia nervosa cheia de cenas desconcertantes e momentos embaraçosos que emocionam e extraem humor das situações mais improváveis. Na história, Schwartzman interpreta Ben Gottlieb, um professor da Sinagoga que coordena os eventos musicais do templo e treina jovens para Bar e Bat Mitzvahs. Após a morte de sua esposa escritora, Ben entra em uma espiral de autodestruição enquanto vive na casa de sua mãe e da companheira dela, interpretada por uma hilária Dolly de Leon (“Triângulo da Tristeza”). Tudo muda quando reaparece na vida de Ben, por um acaso do destino, sua professora do primário, Carla Kessler (Carol Kane). Ben decide acolhe-la como uma de suas estudantes para conduzi-la ao Bat Mitzvah dela apesar da idade inadequada para este rito de passagem judaico.

O elenco inspirado e os diálogos non sense garantem boas risadas do público, além disso o diretor Nathan Silver emprega técnicas e recursos não usuais para filmar esta história, abusando de closes quase claustrofóbicos no rosto do elenco e uma câmera nervosa que deixaria um Paul Greengrass da vida muito satisfeito. O final ambíguo deixa a experiência ainda mais prazerosa.

5 – The Everything Pot (2024) – Longa Metragem

Talvez o filme mais fraco e frágil dos que tive oportunidade de assistir em Tribeca, “The Everything Pot” é uma comédia leve e quase boba em que uma sucessão de desentendimentos e situações embaraçosas vão dando tração para o roteiro. Na obra, a atriz cinquentona Lisa Edelstein interpreta Rachel, uma mulher insegura e inquieta que responde ao RSVP do casamento de um antigo colega de trabalho. O ato de acabar sendo a primeira pessoa a confirmar a presença dela e de seu marido no casamento e de acabar sendo a primeira pessoa a comprar um presente e envia-lo para a casa dos noivos gera uma desconfiança na Noiva, que começa a especular se seu futuro marido não teria tido um caso com Rachel no passado. Este ato de ciúmes vira uma bola de neve que toma rumos totalmente improváveis e inverossímeis no roteiro.

Marcello Azolino

Advogado brasiliense, cinéfilo e Profissional da indústria farmacêutica que habita São Paulo há 8 anos. Criou em 2021 a página @pilulasdecinema para dar voz ao crítico de cinema e escritor adormecido nele. Seus outros hobbies incluem viagens pelo mundo, escrever roteiros e curtir bandas dos anos 80 como Tears For fears, Duran Duran e Simply Red.

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