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“Nosso Verão Daria Um Filme”: Comédia queer grega equilibra melancolia e humor na mesma pegada | 2024

Toda história tem seu herói. Pode ser um herói fraco, que sofre hate do público, ou mesmo um anti-herói que é adorado pela audiência enquanto toma caminhos nada ortodoxos. “Nosso Verão Daria Um Filme” faz questão de avisar que essa história tem sim seu herói e que toda narrativa precisa deles, seja para inspirar ou simplesmente ganhar a empatia de quem está do lado de cá da tela, e a trama sob a direção de Zacharias Mavroeidis nos apresenta a jornada desse herói compilada em capítulos, e com cada um deles humanizando pouca a pouco a figura de um homem que nada mais é do que um garoto, às vezes indeciso, as vezes intrépido.

Na trama conheceremos dois amigos inseparáveis:  Demos (Yorgos Tsiantoulas) e Nikitas (Andreas Labropoulos).  Eles aproveitam os dias ensolarados nas águas de uma praia em Atenas onde tudo rola (inclusive nudismo e sexo!) e juntos, acabam recordando as memórias inesquecíveis do último verão. Durante esse tempo, as lembranças vão ganhando vida sob a perspectiva cinematográfica, ao ponto de transformá-las em um roteiro para o sonhado primeiro longa-metragem de Nikitas. Mas, ao revisitar antigos momentos como se fosse uma película, as rachaduras que estavam na relação deles surgem mais fortes, abalando a amizade entre eles.

O projeto do cineasta Zacharias Mavroeidis celebra o Cinema Queer de uma maneira muito sóbria mas sem deixar o colorido de lado. Os dilemas da trajetória do herói possuem uma comicidade muito própria, ainda que ostente um protagonista melancólico. Sua jornada em perseguir a felicidade, respeitando seus princípios e sendo respeitoso com os demais, não impede que ele dê vazão a seus desejos, e, apesar de sofrer por um amor perdido, ele canaliza suas decepções de forma a ajudar o amigo para seu novo grande projeto, o de fazer um filme. A estrela desse filme? Demos. Sendo assim, temos vários filmes dentro do filme, ideia que não é exatamente original, mas que ganha contornos de personalidade conforme vamos conhecendo todos os personagens que cercam o protagonista, todos muito bem desenvolvidos, sobretudo a personagem de Roubini Vasilakopoulou, Keti, a atenciosa mãe de Demos.

Seu melhor amigo e confidente, Nikitas, tem o sonho de ser um grande cineasta voltado ao universo queer e se lamenta por ainda não ter feito nada aos 30 anos de idade, e usa Xavier Dolan, o famoso realizador canadense que é referência no gênero, já com grandes marcos em seu currículo como “Tom na Fazenda” (2013) e “Mommy” (2014). Mas as referências não param por aí. Ainda é possível notar um flerte, que vai muito além da estética, do cinema “Almodovariano”. Nikitas é o esteio de Demos e a intimidade e o carinho entre eles é palpável, além do que sua presença é marcante e os diálogos reservados ao personagem conferem humor e a quebra  da parede de melancolia representada por Demos.

“Nosso Verão Daria Um Filme” , no original “The Summer With Carmen”, (Carmen, uma adorável cadelinha vira-latas que é adotada por Demos e que ajuda a desnudar ainda mais o lado carente dele), é quente, elegante e sexy, um belo exemplo do Cinema Queer, que não levanta questões políticas, ainda que seja naturalmente político e que tem na despretensão seu maior atributo. Entretenimento voltado ao público gay retratando o dia a dia de um personagem que poderia ser eu ou você. Será que sua vida daria um filme?  Todos nós temos nossas histórias para contar.

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

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