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“A Musa de Bonnard”: Cécile de France vive esposa do complexo pintor francês Pierre Bonnard em cinebio | 2024

Junto com pintores como Edouard Vuillard e Paul Serusier, Pierre Bonnard integrou um movimento artístico vanguardista chamado Les Nabis, que significa “profeta” em hebraico. Eles se consideravam profetas da arte moderna e tinham um estilo característico de pintar composições bastante coloridas e inspiradas principalmente no pintor Paul Gauguin por exemplo. Esta cinebiografia de Bonnard se inicia com o pintor desenhando os traços iniciais do contorno do corpo feminino na tela de pintura. Posando para o pintor, está o objeto de sua paixão ou obsessão, Marthe, aqui interpretada pela belíssima e talentosa atriz Cécile de France.

Bonnard pintou cerca de 2000 quadros ao longo de sua vida e Marthe estaria supostamente em praticamente um terço deles representada de forma desnuda. É sob esse prisma que o diretor e roteirista, Martin Provost, decide se debruçar em quase duas horas de filme. Atravessando décadas que vão de 1893 até 1947, a narrativa disseca o romance, a vida conjugal, as desavenças entre Pierre e Marthe e o quanto isso influenciava a vida e obra do célebre pintor. Marthe é interpretada com vigor pela atriz Cécile de France e entrega um arco dramático que consegue escancarar os matizes de seu talento à medida que o transcurso temporal endurece Marthe como pessoa e esposa. Já o ator Vicent Macaigne até tenta entregar uma composição do pintor Bonnard correta, mas acaba ofuscado pela sua companheira de tela, que atrai todas as atenções possíveis.

Outro elemento que se destaca na obra é a fotografia impecável de Guilherme Schiffman, diretor de fotografia de filmes como “O Artista” (2011), que absolutamente captura a beleza natural, iluminação e vivacidade das cores nos jardins da propriedade rural de Bonnard, próximo a Cannes, em Le Cannet. É de um apuro visual marcante, ressaltado pela intensidade da trilha do compositor Michael Galasso.

Com altos e baixos na relação, Marthe e Pierre lutam para deixar a faísca de amor e desejo viva entre eles, à medida que Pierre começa a buscar outras musas para posar para seus quadros. De tempos em tempos, o casal também recebia a visita de outros pintores como Claude Monet (André Marcon) ou do próprio companheiro de Movimento artístico de Bonnard, Edouard Vuillard (Grégoire Leprince- Ringuet). Em certo trecho do filme, Monet comenta que o Museu de l’Orangerie, em Paris, aceitou, à época, dedicar uma porção inteira do museu ao seu gigantesco quadro As Nymphéas, cena que deixa qualquer apreciador de arte animado com a referência.

Apesar de Bonnard e Marthe serem figuras absolutamente interessantes e complexas com suas condutas erráticas e tempestuosas, o roteiro acaba perdendo fôlego em algumas das passagens temporais do casal, adotando um tom mais arrastado e contemplativo. Algo que é absolutamente compensado pela atuação marcante de Cécile de France. O filme participou da Seleção Oficial de Cannes 2023 e definitivamente merece ser conferido por aqueles que admiram o trabalho de Bonnard ou os aficionados por filmes de arte.

Marcello Azolino

Advogado brasiliense, cinéfilo e Profissional da indústria farmacêutica que habita São Paulo há 8 anos. Criou em 2021 a página @pilulasdecinema para dar voz ao crítico de cinema e escritor adormecido nele. Seus outros hobbies incluem viagens pelo mundo, escrever roteiros e curtir bandas dos anos 80 como Tears For fears, Duran Duran e Simply Red.

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