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“A Alegria é a Prova dos Nove”: Helena Ignez aborda liberdade sexual sem pudor e faz ode ao orgasmo feminino | 2024

Completando seus 85 anos, a atriz, diretora e roteirista Helena Ignez faz um manifesto feminista e sem tabu em seu mais novo Longa Metragem “A Alegria é a Prova dos Nove”, que conta ainda com a participação do cantor Ney Matogrosso no elenco. Em linhas gerais, o filme desenvolve sua linha narrativa a partir do encontro entre Jarda Ícone (Helena Ignez) e seu amigo fiel e ativista Lírio Terron (Ney Matogrosso) no litoral. A partir deste encontro afetuoso, eles relembram uma viagem feita por ambos ao Marrocos nos anos 70. A partir daí, o público é bombardeado com uma série de peças de quebra cabeças e fragmentos sobre histórias femininas de um grupo que prega a liberdade sexual e a ode ao orgasmo como fonte de autoconhecimento.

Jarda é uma sexóloga e roqueira octogenária celebrada em seu círculo social, que dedica seu trabalho a desmistificar o orgasmo feminino para grupos de mulheres com idades das mais variadas. Em seu workshop, abraça o trabalho da norte-americana Betty Dodson, que era integrante do movimento PRO SEXO FEMININISTA e defendia a masturbação em grupo como forma de expressão feminina. Em paralelo, acompanhamos também um grupo de discípulas de Jarda que se intitulam autoras de projetos feministas e com cunho autossustentáveis.

Dessa forma, a medida que o filme avança nas discussões da liberdade sexual, no autoconhecimento do corpo feminino, usando até linguagem mambembe para provar o seu ponto, o público é praticamente soterrado pelas diversas pautas que Helena Ignez decide abraçar em um tempo limitado de tela. Temas como a situação geopolítica da Palestina ou comentários vazios sobre a fome mundial acabam sequestrando o foco principal do filme e comprometendo a coesão do projeto.

Musa do cinema marginal, Helena Ignez tem um extenso repertório de filmes alternativos e marcantes no seu currículo, tendo participado de produções como “O bandido da Luz Vermelha” (1969) e “Perfume de Gardênia”(1992). Em 2003, decide enveredar pela carreira de diretora, inicialmente de curtas como “A miss e o Dinossauro” (2005), até longas como “Luz nas Trevas: A volta do bandido da luz vermelha”(2010) . Seu cinema nunca foi convencional, porém as liberdades que toma em “A Alegria é a Prova dos Nove” podem ser difíceis de serem acompanhadas até para o público mais entusiasta da artista. Recheado de referências a artistas, como o poeta francês Arthur Rimbaud para destacar a alma inquieta e libertina de suas personagens, o filme só alcança algum interesse quando aterrissa em solo e apresenta uma ou outra cena, como a que uma mulher libertária decide sair em um date com um palestino imigrante que não pode beijar antes de casar devido a religião islâmica. Pena que fragmentos como esse se tornam perdidos na conjunção de elementos que Ignez decide reunir em seu roteiro.

Ney Matogrosso tem uma atuação discreta no filme, se concentrando mais em cenas contemplativas, ou uma ou outra crítica social perdida sobre pobreza e fome no Brasil. O clímax do filme se encerra em uma catarse coletiva regada a um ritual “mutcho loko” cheio de excessos e batucadas com Ignez (ou Jarda) sendo adorada por seus discípulos.

Marcello Azolino

Advogado brasiliense, cinéfilo e Profissional da indústria farmacêutica que habita São Paulo há 8 anos. Criou em 2021 a página @pilulasdecinema para dar voz ao crítico de cinema e escritor adormecido nele. Seus outros hobbies incluem viagens pelo mundo, escrever roteiros e curtir bandas dos anos 80 como Tears For fears, Duran Duran e Simply Red.

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