“Fúria Primitiva” : Dev Patel estreia na direção em grande estilo com trama brutal e cheia de ação | 2024
A tecnologia de efeitos digitais revolucionou o cinema, possibilitando abordagens anteriormente inviáveis, como a crescente popularidade dos filmes de super-heróis. Apesar do sucesso inicial de “Superman” em 1978, foi nos últimos 20 anos que o subgênero se consolidou como um fenômeno de massa. Contudo, o gênero de ação, em particular, enfrenta desafios significativos com essa tendência. A substituição do perigo real por efeitos gerados em computador e o uso excessivo de telas verdes têm diminuído a autenticidade das cenas, comprometendo o impacto visual de perseguições, tiroteios, lutas etc. Felizmente, Dev Patel parece entender essa distorção e, em sua estreia como diretor, entrega o melhor do que a ação tem a oferecer.
Na trama acompanhamos Kid (Dev Patel), um lutador amador que descobre uma forma de se infiltrar em um grupo exclusivo da elite. Entre os frequentadores, estão os responsáveis por destruir sua vida anos atrás. Kid então inicia uma campanha explosiva de vingança, determinado a acertar as contas com os homens que lhe tiraram tudo.
Embora a comparação com “John Wick” não seja completamente descabida, o filme se desvia desse caminho ao optar pelo caos e um aparente descontrole nas ações. Isso contrasta com o “balé” meticulosamente coreografado que caracteriza a saga protagonizada por Keanu Reeves. A ambientação, assim como todos os personagens ao redor de Kid, são retratados de maneira brutalmente realista, aliado a uma atmosfera imersiva, fazendo do filme uma experiência sensorial intensa e visceral. Outro aspecto menos usual são as pausas para melhor contextualizar a problemática social. Isso se refere tanto ao entorno político no qual a vingança de Kid esbarra, quanto ao seu drama pessoal. Ambos intimamente ligados.
Há espaço para o absurdo, com algumas passagens lúdicas cheias de surrealismo e devaneios. Em um dado momento, há até uma sequência de treinamento à la Rocky Balboa. Essas são referências clássicas que, embora nada originais, são muito bem empregadas.
Em 2015, George Miller, criador da saga Mad Max, afirmou em entrevista: “a ação não é uma coisa que se diz, é uma coisa que se vê”. Ele estava discutindo a universalidade do cinema de ação, destacando que, em última análise, o cinema em sua essência é imagem em movimento. “Fúria Primitiva” se passa na Índia, em um contexto social muito característico do país. No entanto, a linguagem empregada torna as motivações e consequências das ações perfeitamente palpáveis, seja aqui ou em qualquer lugar. Dev Patel ainda precisa calibrar sua câmera para imprimir mais autoralidade. No entanto, sem sombra de dúvida, este é um começo bastante promissor.