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“Jorge da Capadócia”: Filme brasileiro sobre o Santo Guerreiro coloca a fé como personagem central | 2024

Deus escolhe esse caminho para alguns, Jorge. Tortuoso, mas belo.

Uma das coisas mais difíceis na multitarefa cinematográfica, principalmente quando o filme produzido é um projeto de caráter e importância elevados a um nível pessoal, é manter “os pés no chão”. Vários são os diretores que se aventuram em frente das câmeras em seus próprios filmes; Clint Eastwood, Woody Allen, Kevin Costner, e mais recentemente Bradley Cooper com seu “Maestro” (2023) estão entre tantos outros que assumem dois cargos, podendo ocupar também as cadeiras de roteirista e produção. É uma tarefa difícil, e um desafio complicado de equilibrar.

Em “Jorge da Capadócia”, que agendou seu lançamento nos cinemas na estratégica véspera do dia de devoção a São Jorge, vemos mais um exemplo de um diretor multifacetado entrando em cena e tomando posse dos dois lados da câmera. Aqui Alexandre Machafer entrega um trabalho ímpar e um feito raro ao não estigmatizar o próprio trabalho a um abismo de vaidade, como várias vezes ocorre na indústria, e isso só é possível por conta da paixão e da devoção que ele mesmo dispõe em tela para tornar a fé e o cristianismo os verdadeiros protagonistas da trama. Seu envolvimento íntimo com a realização do projeto é notável, principalmente para os padrões dos filmes cristãos e/ou especificamente católicos, e eleva o nível dessa vertente para evidenciar a qualidade potencial dessas produções de nicho a fim de abrí-las.

A dinâmica em torno da famosa mitologia de São Jorge envolve um levantamento alegórico acerca do dragão, construindo um retrato histórico eficiente em estabelecer com praticidade milagres vividos por Jorge em seu embate político em nome da liberdade religiosa. Contudo, o roteiro trabalha esse paralelo entre os fatos e o mito com algum desequilíbrio. Promete-se a presença constante do dragão físico, tanto no cartaz quanto no trailer, mas pouco dele é entregue. Claro, o foco é o milagre que Jorge foi em seu tempo, e entende-se que o dragão seja  Diocleciano, o imperador romano interpretado por Roberto Bomtempo, mas para o grande público isso pode soar como um fator de engano tendo em vista o próprio material promocional. Isso não é um demérito ao filme, obviamente, mas gera uma expectativa que é cumprida só na superfície.

O maior destaque vai para a potencia da produção, com filmagens em locações reais, explorando todas as belezas dos magníficos cenários da Capadócia. A logística de filmagens é muito bem elaborada, e tanto efeitos quanto maquiagem, apesar de não reinventarem a roda, são muito bem empregados. A cena da tortura em praça pública tem, inclusive, um quê de “Coração Valente” (1995), filme que também foi protagonizado pelo próprio diretor, Mel Gibson. E assim, com uma proposta mais popular e fiel à emblemática figura de Jorge, o outrora oficial da Capadócia, o filme agrega valor ao nosso cinema e confirma a qualidade daquilo que podemos oferecer como contadores de histórias.

Vinícius Martins

Cinéfilo, colecionador, leitor, escritor, futuro diretor de cinema, chocólatra, fã de literatura inglesa, viciado em trilhas sonoras e defensor assíduo de que foi Han Solo quem atirou primeiro.

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