⚠️ VEJA OUTRAS CRITICAS DO PAPO EM NOSSO ACERVO (SITE ANTIGO).

ACESSAR SITE ANTIGO
PitacO do PapO

“Domingo à Noite”: Drama sobre Alzheimer tem sensível atuação de Zécarlos Machado | 2024

Eu tenho que fazer alguma coisa agora?

Cinema é experiência. Não só pra quem assiste como pra quem faz cinema. No caso de “Domingo à Noite”, que chegou recentemente às salas, a ideia para o filme surgiu de uma experiência pessoal do roteirista Bruno Gonzalez após a morte do avô dele e o surgimento dos primeiros sinais de demência na avó. Os efeitos desastrosos do Alzheimer sempre aparecem no audiovisual: “Meu Pai” (2020), “Para Sempre Alice” (2014) e “Antes Que Eu Me Esqueça” (2017) estão entre alguns bons títulos que abordam o assunto, que não só emocionam como provocam reflexões e promovem esclarecimentos. É quando o cinema alcança a  sempre bem-vinda função social.

Na história Marieta Severo é Margot, uma mulher de  75 anos que é uma das maiores atrizes do Brasil. Ela é casada há mais de 50 anos com Antônio (Zécarlos Machado), um escritor premiado e com Alzheimer avançado. Enquanto luta para manter a independência e cuidar do marido sozinha, ela enfrenta grandes dificuldades internas para finalizar a última cena de seu último filme. Para Margot, nesse momento, o mais importante  é manter o amor deles vivo diante da falta de memória do marido. Ao descobrir que também tem Alzheimer, Margot precisará se reconectar com os filhos, Francine (Natália Lage) e Guto (Johnnas Oliva) para que tenha a tranquilidade de partir.

O grande destaque do projeto é a visceral e tocante performance de Zécarlos Machado, que mergulha nesse salto no vazio que imagino (apenas imagino) que seja encarnar uma personagem que tem Alzheimer. É impressionante como Zécarlos atrai todos os olhares para si  quase sem texto algum, digo quase pois a todo momento ele pergunta para Margot:  “Eu tenho que fazer alguma coisa agora?” O olhar perdido e seu gestual comove e coloca o espectador bem no centro daquele drama.

André Bushatsky (“Um Pouco de Mim, Um Pouco de Nós” – 2023), que tem longa estrada à frente de documentários, traz seu olhar realista para esse drama pesado e que depende exclusivamente do entrosamento e da química dos quatro que compõem esse núcleo familiar, núcleo esse que guarda uma dor que desestrutura ainda mais esse lar já destroçado pela ameaça do avanço da enfermidade do casal. A edição de Bushatsky é tão cuidadosa com os detalhes, que é como se a trama se passasse em tempo real, transferindo também para o público o peso daqueles dilemas.

“Domingo à Noite” é um drama sensível que tem o luxo de ter protagonistas como Marieta Severo (que por esse papel garantiu  o prêmio de Melhor Atriz no Madrid Film Awards (MADFA) 2023) e Zécarlos Machado, outro gigante em cena,  em um projeto que tem a atuação como ponto alto. É quase palpável o luto em vida e o amor do casal, que luta em meio à perda da memória.

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo